LAB A vacina portuguesa que quer chegar a África e ao Brasil
covid-19
A vacina anti-covid está a ser desenvolvida
em Cantanhede e será por via nasal, como uma bomba de asma. Para a Immunethep, isto vai facilitar a toma nos países africanos
Rute Coelho
rute.coelho@novo.lapanews.pt
Uns estavam em Inglaterra e vieram de propósito. Outros são jovens crânios saídos das universidades, cheios de adrenalina para gastar. O entusiasmo sente-se no ar na biotecnológica Immunethep, uma spinn-off da Universidade do Porto sediada em Cantanhede.
É ali que está a ser desenvolvida a primeira vacina anti-covid portuguesa. Os dois homens do leme são Bruno Santos, director-executivo, e Pedro Madureiro, director científico.
“Vamos ter a vacina em 2022 e, como a nossa vai ser inalada, como uma bomba de asma, poderá chegar também ao mercado dos PALOP e até ao Brasil”, diz Pedro Madureiro ao NOVO. “A nossa formulação é uma patente mundial que pode ser administrada em todo o mundo”, acrescenta Bruno Santos. “Já vimos que precisamos de 5 mil profissionais de saúde para administrar a vacina em Portugal. Em Angola e Moçambique não têm tantos profissionais e a nossa tem essa vantagem para a distribuição para África.”
“Os principais mercados da TAP são o Brasil e os PALOP, onde temos uma relação mais próxima e de viagens de negócios”, diz Pedro.
O Governo já deu sinais de poder vir a apoiar no investimento de 20 milhões de euros de que a biotecnológica precisa para desenvolver a vacina.
Agora, a Immunethep está na fase dos ensaios pré-clínicos, em que se infectam os ratos de laboratório com o vírus para depois administrar o produto. Os ensaios clínicos, com humanos, deverão começar no segundo semestre do ano.
“Antes de avançarmos para os humanos temos de mostrar que a vacina funciona no modelo animal e que não é tóxica. Contamos terminar em Maio e estamos a ter resultados interessantes. Temos indícios de que leva à produção de anticorpos”, diz Pedro Madureiro.
Na biotecnológica estão a usar ratinhos especiais que têm uma alteração genética, para que as reacções sejam mais parecidas com o que acontece com os humanos. “Os ratos infectados com o vírus têm exactamente a mesma reacção que vemos nos humanos, quando parece que a nível pulmonar está tudo bem e, de repente, colapsa”, conta Bruno Santos.
Já há muitos interessados em serem cobaias humanas na toma da vacina portuguesa. Numa primeira fase, em que é preciso avaliar a segurança do produto, será tomada por apenas alguns voluntários. Depois, o grupo pode crescer e ir até 50 a 80 pessoas e, numa segunda fase, pode ir de 2 mil a 5 mil pessoas.
A selecção será criteriosa. “Na primeira fase é preciso perceber e despistar qualquer hipótese de toxicidade, tem de ser num grupo pequeno e de adultos saudáveis, entre os 18 e os 55 anos ou dos 18 aos 65 anos.”
Outra novidade na produção da vacina da Immunethep é que foi decidido usar o vírus como um todo, em vez de isolar partes. “Vimos que o vírus como um todo não tem uma grande variação. Ou seja, 99% do vírus é constante dentro das variantes”, refere Bruno Santos. Os dois cientistas contrariam a tese da mutabilidade do vírus e explicam que a diversidade de sintomas, de pessoa para pessoa, está mais relacionada com o organismo de cada um.
Combate às bactérias
A biotecnológica de Cantanhede está também a fazer uma vacina para prevenir a infecção por bactérias multirresistentes. “Estamos a falar das bactérias que estão na moda pelos piores motivos, porque são muito resistentes a antibióticos. Causam septicémias, pneumonia e meningite. Evoluíram e desenvolveram mecanismos para escapar ao nosso sistema imune. A vacina restabelece a capacidade do sistema imune de controlar a infecção”, explica Pedro Madureiro. O futuro está em produção.
A vacina da Immunethep vai chegar ao mercado português em 2022. Cientistas
da biotecnológica estão também
a desenvolver
uma vacina para
as bactérias multirresistentes
Bruno Santos
e Pedro Madureiro lideram
a equipa
de cientistas que está a desenvolver a vacina anti covid-19 na Immunethep
Diana Tinoco