A degradação das instituições democráticas e da confiança entre eleitos e eleitores atingiu esta semana mais um momento alto.
Abstenção, demagogia, populismo e os extremos do espectro partidário agradecem.
Ainda na sequência do – extenso e lamentável – dossiê da TAP, depois da sucessão de casos e casinhos com a sua gestão, privatização e posterior nacionalização, eis que uma série de infantilidades, cometida por um conjunto de pessoas que – sempre longe do escrutínio público – pulula há anos nos corredores do poder, nos asfixia e, simultaneamente, envergonha.
Alegadamente agrupando ocultação de informação por parte de pessoal, livremente nomeado (e exonerado) politicamente por membros do Governo, agressões, “roubos” (nas palavras do primeiro-ministro, ora travestido de juiz), envolvimento – injustificável no nosso enquadramento jurídico-constitucional – dos serviços de informações e de mais do que uma polícia (sempre ao mais alto nível).
Sobre a actuação dos serviços de informações da República, que deveriam ser, obrigatoriamente, discretos e centrados em verdadeiras ameaças, em que legal e constitucionalmente não existe enquadramento para este tipo de intervenção, estamos conversados.
“Fiscalizados” por dois antigos membros de governos de Costa e “superiormente” dirigidos pela esposa de um ex-secretário de Estado de Sócrates, mais uma vez, engrossaram o anedotário nacional.
Quanto ao topete de Costa, desrespeitando não o Presidente da República – que nunca deveria ter aceitado a tomada de posse do “cowboy do teclado” – mas, acima de tudo, os portugueses, infelizmente, já estamos habituados.
Numa pura jogada de politiquice – e não da nobre arte da política –, Costa procurou mostrar ao país quem manda, negligenciando (mal) o princípio da responsabilização dos titulares de cargos públicos e condenando (duplamente) um seu ministro a um lento esvaziamento de funções, à espera de uma qualquer remodelação fora dos holofotes mediáticos.
Na sua ânsia – sempre táctica, mais do que de genuína preocupação com o país, com o futuro do seu partido ou até mesmo com a esquerda em geral –, Costa procura, antes do mais, satisfazer, única e simplesmente, os seus interesses e caprichos pessoais.
Líder de um governo (e de um partido) esgotado, amorfo e sem qualquer capacidade de iniciativa política, sabe bem que quanto mais tarde os portugueses forem chamados às urnas, pior para si.
De uma ampla maioria de esquerda no Parlamento, com o desgaste de uma “maioria requentada” (nas palavras de Marcelo), um “filão” TAP sempre pronto a explodir e uma “direita” a organizar-se, eis que o florentino Costa aparece.
No entretanto, o “país real” – aquele com que muitos destes tristes protagonistas nunca tiveram, têm ou sequer terão qualquer relação – empobrece, emigra e, principalmente, desacredita, preocupantemente, na democracia e nos seus mecanismos.
Vale a pena pensar nisto porque, como se viu num passado não muito distante, a democracia não é eterna e precisa, constantemente, de ser regada não com tácticos, mas sim com estadistas.