Pouco tempo após as ocorrências francesas e respectivas actualizações, não demorou muito até aos partidos da oposição portuguesa se manifestarem, cada um com os seus próprios proveitos. Acrescido a isso, e completamente à margem do que é suposto acontecer em situações de ataques à democracia, estes partidos apostaram nos lucros políticos subjacentes ao terror que assistimos em França. Ainda a par disso, expuseram todas as suas reservas, assim como polarizações político-ideológicas e partidárias, em nada relacionadas com a conjuntura actual. Partidos como o Bloco de Esquerda e o Chega não se demoveram de prestar todo o tipo de declarações, completamente parciais e partidárias, sem qualquer réstia de sensatez democrática.
Numa altura em que o ditado “a união faz a força” devia ter uma conotação reforçada, as forças de oposição devem promover uma ligação forte e de maior coesão, de forma a colmatar toda a violência que se implantou em território francês. Pelos vistos, todos os partidos políticos do espectro político em França agiram conforme. As únicas declarações mais polémicas, oferecendo interpretações mistas, são as de Jean-Luc Mélenchon. Em Portugal, ainda que não seja o epicentro dos episódios, tal não tem acontecido.
Assistimos, da esquerda à direita, principalmente nos partidos mais distantes do centro, a afirmações e posições completamente desnecessárias e inoportunas ao contexto, servindo este como pretexto político para acumulação e ganho de votos. A este tipo de oportunismos chamamos de populismos. Os populismos políticos não são típicos e específicos aos partidos “fora do sistema” – são transversais a todos os políticos e partidos políticos que escolham a obtenção de holofotes e votos a partir de argumentos falaciosos, todavia, susceptíveis de induzir em erro grande parte dos ouvintes. São estes tipos de discursos divisórios e nefastos que dividem a população, ao invés de a unir no que toca aos princípios mais basilares de qualquer sociedade.
O contexto francês deve servir, quanto muito, para incutir uma espécie de “Teoria da Vacina” a todos os países fronteiriços e que possam ser contagiados pela violência que tem tomado lugar o território francês. Mais do que isso, deve servir de motivação e união contra a intolerância, os ataques democráticos, agressões e protestos que diminuam a democracia, os direitos, liberdades e garantias e, as instituições democráticas.
Posto isto, são este tipo de acções e demarcações daquilo que é desejável e expectável que afastam eleitores e levam à diminuição da seriedade da política.
Seja qual for o rumo que a França leve, com a continuação de amostras de pura violência nas ruas, inícios de calmaria pelos “manifestantes”, ou um endurecimento das medidas sancionatórias e políticas pelo Presidente da República/Ministérios/Forças Policiais, o que é certo é que não se tratou de simples manifestações ou protestos contra o Governo ou uma instituição governamental, como fora o caso das reformas. Trataram-se de incidentes sem precedentes, que incluíram tentativas de homicídio, arrombamentos e destruições completas em revoltas de diversos focos em território nacional. Face a isso, a única conclusão que devemos retirar é a de abominação de tais práticas, condenação imediata, apoio completo aos intermediários e, acima de tudo, união e defesa da democracia – a principal vítima em todo este cenário.
Um não aos ataques democráticos, e um não a qualquer oportunismo partidário em nome de todas as vítimas.