Igreja assume negligência perante as vítimas de abuso sexual

Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa reconhece que a Igreja foi incapaz de velar como devia para evitar os abusos e volta a pedir perdão às vítimas.

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) assumiu esta manhã, em Fátima, que a Igreja não foi sempre capaz de velar como devia para evitar os abusos e voltou a pedir perdão às vítimas.

“Assumimos que, em muitas ocasiões, não fomos capazes de tomar consciência e de velar como devíamos para evitar estes abusos e para lidar com a gravidade das ofensas que foram feitas”, disse esta manhã, durante a homilia integrada na “Eucaristia pelas vítimas de abusos sexuais, de poder e consciência na Igreja”, celebrada às 11 horas na Basílica da Santíssima Trindade, em Fátima.

D. José Ornelas, reeleito pelos pares presidente da CEP, em reunião plenária dos bispos portugueses que começou na segunda-feira e termina hoje, voltou durante a missa a pedir perdão às vitimas de abuso sexual.

“Reconhecemos e apresentamos, a cada um e a cada uma daqueles e daquelas que sofreram estes abusos em ambiente eclesial, um profundo, sincero e humilde pedido de perdão, em nome da Igreja na qual eles confiaram e onde sofreram tão injusta e perturbadora violência.”

O bispo da diocese de Leiria-Fátima ainda acrescentou: “Pedimos perdão e pedimos igualmente a força, a coerência e a determinação de tudo fazer para que as pessoas que sofreram tão injustamente possam ter condições de superar os dramas que lhes foram infligidos, recuperar a estabilidade e a esperança na vida.”

Recorde-se que na segunda-feira, na abertura da reunião plenária, D. José Ornelas anunciou a criação de um grupo de acompanhamento, de âmbito nacional, para trabalhar junto das vítimas de abusos sexuais na Igreja. O NOVO sabe que esse grupo de trabalho vai ser presidido pela psicóloga Rute Agulhas, devendo ficar a conhecer-se hoje o nome dos restantes elementos da equipa.

D. José Ornelas concluiu a homilia reiterando o pedido de perdão. “Hoje, como bispos da Igreja em Portugal, queremos dizer àquelas e aqueles que sofreram estes abusos, antes do mais, uma palavra de reiterado pedido de perdão, com que começámos esta liturgia. Isso significa identificação e reconhecimento do mal que vos foi imposto, de forma injusta e abusiva, e no ambiente onde menos deveria ter acontecido. Essa dor é também a nossa e continuará a doer enquanto a vossa não for curada.”

A missa celebrada hoje na Basílica da Santíssima Trindade, com a presença de todos os bispos portugueses, insere-se na “jornada nacional de oração pelas vítimas de abusos sexuais, de poder e de consciência na Igreja”, com que a CEP quis fazer culminar a assembleia plenária.