Festival Tanto Mar está “em fase de crescimento” e mostra o melhor das artes performativas da CPLP em Loulé

O Tanto Mar está de regresso à cidade algarvia para a sua quarta edição, que arranca já no próximo dia 23.

Loulé vai ser novamente o centro das artes performativas da língua portuguesa. O Festival Tanto Mar está de regresso para a sua quarta edição, que vai decorrer entre os dias 23 e 27 deste mês, no Cineteatro Louletano. O Tanto Mar é o festival internacional que mostra o melhor das artes performativas na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

A edição deste ano demonstra o crescimento do festival, que conta com mais um dia do que na edição anterior. Nesta quarta edição há grupos de Portugal, Cabo Verde, Brasil e Moçambique entre os cabeças-de-cartaz. Pode consultar a programação aqui.

O festival, que é uma co-produção da folha de medronho, da Câmara Municipal de Loulé e do Cineteatro Louletano, tem como objectivo destacar-se ainda mais a nível nacional, mas também no plano internacional.

O NOVO falou com João de Mello Alvim, director do Tanto Mar, que frisou que o festival tem “todas as características para se tornar muito forte” e explicou o trabalho desenvolvido de prospecção de grupos nos países da CPLP e a logística necessária para os trazer de forma a actuarem no Tanto Mar.

O responsável também salientou a importância de se organizar um festival destes na região do Algarve, com o propósito de descentralizar os eventos culturais dos grandes polos urbanos do país.

O que se pode esperar da edição deste ano do Festival Tanto Mar?
Está em fase de crescimento. O festival é feito em co-produção com a Câmara Municipal de Loulé, que gere o Cineteatro Louletano, onde os espectáculos decorrem. Neste ano foi possível aumentar os dias de apresentação de espectáculos. Tínhamos três dias e este ano a câmara cedeu-nos mais um dia no cineteatro, penso que reconhecendo a importância do festival. Este é um ponto a assinalar. O Tanto Mar é o único festival, que eu saiba, que se faz neste momento em Portugal só com grupos de países falantes de português. Nas edições anteriores não tivemos nenhum grupo português, mas com este aumento de dias incluímos um grupo português, além de grupos que vêm de África e do Brasil. O Tanto Mar é uma preocupação nossa durante ano todo. Não é fácil encontrar, principalmente em África, grupos que se possam deslocar, que haja uma logística que possamos comportar, geralmente sem grupos muito grandes. Tentamos trazer grupos pequenos porque as passagens aéreas são muito caras e, portanto, é preciso uma pesquisa para que a qualidade dos espectáculos apresentada seja de bom nível. Essa pesquisa às vezes é complicada. O público pode esperar uma continuidade na aposta da amostra do que se faz actualmente nos países africanos de expressão portuguesa e no Brasil com a qualidade dos anos anteriores.

O Tanto Mar tem ainda poucos anos, mas quer afirmar-se a nível nacional e internacional a médio prazo. Sente que o cartaz deste ano vai contribuir para esse crescimento gradual?
Esperamos que sim. Nós que estamos na organização do Tanto Mar já estamos ligados a estas actividades com grupos africanos e brasileiros há muitos anos. Este aumento para quatro dias é um reconhecimento da comunidade e do nosso principal apoiante, que é a Câmara Municipal. Pensamos que a quinta edição vai ser ainda mais alargada, que vai marcar um ponto de viragem, o nosso objectivo é esse. Queremos ver se conseguimos o quinto dia de espectáculos. Há aqui uma condicionante muito grande no desenho da programação do Tanto Mar, não é um festival à “la carte”. Não posso dizer que quero aquele e aquele. Preciso de ter um orçamento que me permita fazer isso. Os grupos africanos – esta é uma realidade que não é muito conhecida em Portugal – não têm dinheiro para, por exemplo, pagarem as passagens aéreas. Ou seja, uma grande fatia do orçamento é aplicada nas deslocações dos grupos. Como director artístico do festival tenho de conhecer o trabalho do grupo. Portanto, temos de fazer aqui uma ginástica. Felizmente, a Fundação Calouste Gulbenkian tem, de forma geral, apoiado estas deslocações. Para este festival, se tivesse um orçamento x e se só pagasse o alojamento, a alimentação e um cachet, podia movimentar-me de uma forma muito mais confortável. Essencialmente, com o Tanto Mar queremos fazer um festival em que os afectos estejam presentes. Interessa-nos sobretudo desenvolver trabalhos futuros de parcerias. Tornar o Tanto Mar numa rede, um circuito que está anualmente a funciona, não só quando se apresenta publicamente em Loulé, mas quando me desloco para ir a outros países. Todos esses contactos para são muito importantes para nós. Interessa-nos manter esta corrente afectiva, este intercâmbio e alargá-lo cada vez mais.

Na cultura, tal como noutras áreas, há uma centralização muito grande nas principais cidades do país. Quão importante é este festival na região do Algarve não só para dar a conhecer as artes performativas, mas dar a conhecer as artes performativas de outros países, de outras culturas?
Nós, como organização, temos de dizer que a Câmara Municipal de Loulé percebeu isso. Percebeu que era importante que este festival se realizasse no Algarve, fora da macrocefalia das grandes cidades, e que era importante afirmar o festival e que possa crescer. Desde o primeiro dia que apresentámos o esboço do Tanto Mar houve um carinho muito grande em relação a este festival. Há uma comunidade muito grande de moçambicanos, de cabo-verdianos e de angolanos no Algarve e a ideia, por um lado, é apresentarmos o que se está a fazer nesses países, sem qualquer intenção paternalista ou neocolonialista no aspecto cultural, e ao mesmo tempo os imigrantes que estão cá poderem ver o que se está a fazer nos países das suas raízes. São duas preocupações que temos. Este ano se não tivéssemos o apoio da câmara não conseguíamos fazer este festival. O Tanto Mar tem todas as características para se tornar um festival muito forte, porque um dos objectivos que temos é criar em Loulé um centro documental ligado às artes performativas dos países falantes de português. Um centro documental que reunirá peças que, entretanto, são editadas, programas, cartazes, vídeos. Essa será uma segunda fase do Tanto Mar. Isto é muito importante para nós, porque de facto o mar que nos separa dos países africanos e do Brasil, é o mar que nos une. Com essa máxima queremos substanciar isso não só no efémero, com a apresentação dos espectáculos, como no convívio, como na partilha, e ao mesmo tempo ter a parte que fica do espectáculo num centro documental. Pequeno no princípio, mas depois também a crescer como o Tanto Mar. Sei que isto é ambicioso, mas se perdemos a esperança, perdemos tudo.