Perante a, quase, indiferença da “intelligentsia” nacional decorreu na última semana, na África do Sul, a fulcral 15ª cimeira anual dos BRICS.
Reunião na qual, para além do alargamento deste grupo de estados (outrora) emergentes, de 5 para 11 e a países como a Arábia Saudita ou o Irão, em muito se fortaleceram o sentimento antiocidental, a liderança chinesa do grupo – uma ditadura estatista desrespeitadora de qualquer liberdade individual – e, adicionalmente, o apoio ao autocrata e criminoso de guerra Putin, que acaba de retirar – friamente – a vida a (mais um) antigo aliado que se rebelara há escassos dois meses.
Nada que se possa, ou deva, desvalorizar.
Contudo, eis que, praticamente em simultâneo, num país no qual o “guru” da extrema-esquerda, o professor Boaventura dos lábios pintados de batom vermelho, aguarda há meses (numa instituição de ensino superior pública, recorde-se) pela criação de uma comissão que investigue as denúncias de assédio contra si dirigidas, conseguindo, no entretanto – e entre outras proezas – a suspensão da venda do livro em causa, um imediato “linchamento” público (ao melhor estilo da “escola” BSS), se verificou em reação às atitudes inenarráveis, é certo, do presidente da Federação Espanhola de Futebol, aquando da vitória no Mundial feminino.
Perante um momento alto – o mais alto – do futebol feminino na História, a histeria coletiva conseguiu, à imagem do que tantas e tantas vezes sucedeu, centrar-se num triste episódio, contaminando tudo o resto.
É o resultado – de ambos os lados – quando o bom senso e a razoabilidade são esquecidos.
Não deixa, ainda, de ser irónico e sintomático que a mesma esquerda que defende, irracionalmente, a causa árabe (sempre contra o “invasor” Israel) sabendo bem do respeito existente nesses estados quanto a minorias ou aos direitos das mulheres, em contraponto com a tolerância judaico-cristã, venha agora indignar-se perante o “machismo” de todo o “edifício” do futebol a nível mundial, por uma atitude censurável de um seu dirigente.
A mais pura das verdades é que, à imagem do que sucede perante tantas outras entidades – como a Igreja Católica, as Forças Armadas ou as Forças e Serviços de Segurança – o que move estes novos “polícias dos comportamentos” não são os direitos das pessoas ou as (existentes) discriminações, mas sim a aversão a estas instituições, que não controlam ou sequer compreendem.
A mesma hipocrisia que lhes permite dizer, usar e manipular a informação a seu bel-prazer será o mesmo pragmatismo com que os cidadãos – supremos juízes em democracia – votarão (à imagem do que sucede já em muitos outros países) ideologias e doutrinas que procuram fraturar, artificialmente, a sociedade à insignificância.
O eleitor pode nem sempre concordar ou votar, mas, quando perceciona a incoerência, perde a confiança, logo, o respeito.