Crise no Governo condiciona futura liderança

Fernando Medina e Pedro Nuno Santos eram vistos, até há pouco tempo, como os candidatos mais fortes à liderança do PS.

A crise no Governo abriu feridas no PS e lançou novos dados sobre o futuro do partido. António Costa garante que quer ficar até 2026, mas desde o dia em que decidiu levar para o Executivo quase todos os candidatos ao pós-costismo tornou-se inevitável a discussão sobre a próxima liderança.

Pedro Nuno Santos, Fernando Medina, Ana Catarina Mendes e Mariana Vieira da Silva são vistos, desde o último congresso do PS, em Agosto de 2021, como putativos candidatos à liderança. Mas as polémicas no Governo, principalmente devido à indemnização que Alexandra Reis recebeu na TAP e às revelações feitas na comissão parlamentar de inquérito, mudaram quase tudo.

Pedro Nuno Santos, um dos nomes mais fortes para uma nova fase do PS, não só foi obrigado a demitir-se do Governo como está cada vez mais fragilizado devido ao dossiê da TAP. António Costa não perde uma oportunidade para contribuir para a fragilização do ex-ministro das Infra-Estruturas e, entre os socialistas, já ninguém tem dúvidas de que fará o que puder para travar a ascensão do antigo líder da JS.

Apesar disso, Santos, que poderá assumir o lugar de deputado no Verão e ainda não foi ouvido na comissão parlamentar de inquérito, continua com apoios no aparelho do PS. A esperança é que o tempo jogue a seu favor.

A crise no Governo trouxe, porém, outros nomes para cima da mesa. Duarte Cordeiro, próximo de Pedro Nuno Santos, é visto como uma alternativa, e Marta Temido, ex-ministra da Saúde, aparece, numa sondagem recente da Intercampus, como um dos nomes mais bem colocados para enfrentar Luís Montenegro. Temido, que assumiu recentemente a liderança do PS/Lisboa, está, no entanto, longe de ter apoios dentro do partido.

“Um desastre total”
Com estes ou outros nomes, é inevitável, a seguir a António Costa, que o partido abra uma discussão sobre o posicionamento ideológico do PS – ou seja, se quer virar à esquerda ou alinhar com os moderados. “Há muitas nuvens negras no horizonte”, diz ao NOVO António Galamba, ex-deputado e crítico da governação de António Costa.

O ex-dirigente socialista nos tempos de António José Seguro teme uma viragem “ainda mais” à esquerda depois do costismo. “Há um peso crescente de sectores internos, sobretudo numa lógica geracional, que defendem uma viragem ainda mais à esquerda. Portanto, diria que existe um conjunto de nuvens negras no horizonte que podem levar a que o PS se torne um partido inviável”, diz Galamba, acrescentando que, mesmo a nível da governação, há “ziguezagues, decisões que são tomadas de forma repentina, falta de ética republicana e uma dimensão de previsibilidade que a política deve ter que deixou de existir.”

Perante a ausência de “uma cultura de integração e de debate” existe o risco de “derivas” e “rupturas”, afirma o ex-deputado socialista, lamentando a opção de promover a ministros os putativos candidatos. “Essa opção é um desastre total. O Governo, neste momento, não é um projecto político integrado, mas a conjugação de um conjunto de agendas pessoais. Os resultados estão à vista e isso está a gerar espaço para os radicalismos e a minar a democracia.” A instabilidade no Governo colocou na agenda política a possibilidade de eleições antecipadas e veio baralhar os calendários dos possíveis candidatos.

A ambição de António Costa de atingir um cargo europeu ajuda a alimentar a especulação. Não rejeitando essa hipótese, Costa garantiu, esta semana, em entrevista à CNN, que “até ao final desta legislatura” não tem “disponibilidade para qualquer função europeia”. E deixou um conselho para aqueles que ambicionam suceder-lhe: devem ter “a humildade” de compreender quem está nas “melhores circunstâncias” para avançar para a liderança.