Costa pressionado a esclarecer contradições entre ministros

Dossiê da TAP continua a desgastar o Governo. Parecer, que afinal não existia, volta a mostrar falta de coordenação. Montenegro fala em “confusão total” e desafia primeiro-ministro a falar ao país.

A comissão de inquérito à TAP continua a dar dores de cabeça ao Governo e, desta vez, estão no centro da polémica quatro ministros: Fernando Medina, João Galamba, Mariana Vieira da Silva e Ana Catarina Mendes. O parecer que sustenta o despedimento do presidente do conselho de administração e da CEO da TAP, que afinal não existe, revelou, mais uma vez, falta de coordenação no Governo e dominou a agenda política em mais uma semana difícil para os socialistas.

A oposição exige explicações a António Costa. Foram precisos quatro dias para que Fernando Medina, ministro das Finanças, viesse garantir que “não há nenhum parecer adicional nem se justifica”. Isto depois de Mariana Vieira da Silva, ministra da Presidência, ter afirmado, um dia antes, na comissão parlamentar de Economia, que a defesa do interesse público justificava não tornar público esse “parecer jurídico”.

E Ana Catarina Mendes, em conferência de imprensa, também ter justificado a posição do Governo com a necessidade de “preservar o interesse público”.Na resposta ao pedido da comissão – depois de Medina ter afirmado, no dia em que anunciou os despedimentos, que a decisão está “juridicamente blindada” – os ministérios das Finanças, Infra-estruturas e Presidência apresentaram outro argumento: os documentos solicitados extravasam o objecto da comissão. “Isto é a confusão total”, afirmou, na sexta-feira, Luís Montenegro que, em conjunto com a IL e o Chega, pediu mais esclarecimentos ao primeiro-ministro. O presidente do PSD criticou o “silêncio” de António Costa sobre este caso e desafio-o a “falar ao país”. Considerando que esta “é uma situação política em que o Governo está sem rei nem roque”, Montenegro criticou as contradições: “Não há dois membros do Governo a dizer a mesma coisa”.

Alguém está a mentir

Os liberais foram mais longe e garantiram que alguém “está a mentir”. Perante as “duas versões apresentadas, uma por Ana Catarina Mendes e outra por Fernando Medina”, que “são absolutamente incompatíveis”, podemos “chegar à conclusão que um deles está a mentir”, disse Rui Rocha. O presidente da IL defendeu que “os ministros já não têm capacidade de se coordenarem entre si e de apresentarem versões minimamente coerentes dos factos”. Ou seja, “há um completo descontrolo” e António Costa deve dar esclarecimentos sobre “toda esta degradação que está a acontecer aos olhos dos portugueses”, concluiu.

André Ventura acusou o ministro das Finanças de “mentir ao país”. Reafirmando que Fernando Medina não tem condições para permanecer no executivo, o líder do Chega desafiou o primeiro-ministro a “falar ao país sobre o caos instalado no Governo a propósito deste caso da TAP”.

À esquerda, Mariana Mortágua também defendeu que, tendo em conta “a elevada quantidade de ministros envolvidos neste caso e as várias versões sobre este parecer”, António Costa deve “esclarecer” esta situação.

“Há ministras que mentiram. Que disseram ao país que não podiam divulgar um parecer que não existe”, acrescentou a deputada bloquista, lamentando que este processo tão tenha sido gerido de uma forma “ponderada e preparada”.Já Paula Santos, do PCP, defendeu que o Governo deve “um cabal esclarecimento ao país” sobre mais esta polémica que envolve a gestão da TAP. Há informações que “são contraditórias” e que “suscitam dúvidas”, afirmou a líder parlamentar dos comunistas.