Chega quer candidatos autárquicos a dar bodo aos pobres
Falta de definição ideológica no partido de André Ventura faz soar alertas para autárquicas. Vice-presidente Gabriel Mithá Ribeiro, que está a preparar um novo programa, ensina futuro da identidade do Chega aos candidatos que se submetem a sufrágio – e apela a acções de caridade local para ganhar a confiança de novos eleitores.
Com as eleições autárquicas a cinco meses de distância, a cúpula do Chega está em contra-relógio. Preocupada com a confusão ideológica do partido, que agrega desde liberais a ultraconservadores do CDS, passando por antigos militantes do PSD e populares descontentes, sem esquecer a ala nacionalista radical, a direcção nacional receia um desaire nas urnas. É por isso que as duas convenções autárquicas, realizadas dia 20 de Março, em Loures, com os candidatos autárquicos do Sul e Ilhas e dia 24 de Abril, em Bragança, com as concelhias a norte, se focaram em alinhar as tropas no mesmo sentido ideológico. “[O Chega] é uma gruta de ouro em risco de desabar. Podemos ficar ricos ou ir desta para melhor”, alertou o coordenador do gabinete de estudos do partido e vice-presidente, Gabriel Mithá Ribeiro, num discurso a que o NOVO teve acesso.
Responsável pela elaboração de um novo programa – o terceiro em dois anos de vida do partido –, o investigador, que é especialista em estudos africanos, explicou o que é o Chega, ideológica e programaticamente. “Do Minho ao Algarve e nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, o Chega tem de provar aos portugueses que os seus militantes e candidatos partilham s mesmos valores morais, os mesmos princípios cívicos e políticos.” De acordo com as normas apresentadas em convenção, primeiro deve criar-se uma “cultura cívica” e “autárquica” que deve reflectir-se já na campanha. A título de exemplo, o vice sugeriu aos candidatos eleitorais e estruturas de base que procurem nos seus concelhos “quais são as famílias ou pessoas carenciadas da sua área de residência, as pessoas que de facto necessitam de apoio”. “Depois podem fazer um esforço para terem um pequeno armazém ou garagem para angariarem bens de consumo essencial que não se deteriorem facilmente: leite, cereais, conservas, arroz, azeite, vinagre, produtos de higiene, detergentes e outros.” E isso não é um sinónimo de aproveitamento político da pobreza? Mithá Ribeiro admite ao NOVO que há esse risco: “Agora, com as tecnologias, as pessoas filmam tudo. Eu pedi para esse tipo de iniciativas não se ostentarem. Isto só faz sentido se for discreto.”
Leia o artigo na íntegra na edição impressa do NOVO, nas bancas a 30 de Abril de 2021.