Cantigas, Grândola e uma redonda data
Faz em Outubro meio século a viagem a França de José Afonso para a gravação do primeiro dos seus discos com produção de José Mário Branco. Editado no Natal de 1971, “Cantigas do Maio” tornar-se-ia um marco na história da música portuguesa – e, graças ao erro que fez de “Grândola, Vila Morena” canção perfeita para segunda senha do 25 de Abril, na do país democrático.
Eram quatro homens e era de madrugada. José Afonso, Carlos Correia, Francisco Fanhais e José Mário Branco, que cedo percebera que a “Grândola” que idealizara não tinha como ser gravada apenas em estúdio. Zeca chegara-lhe com uma versão ainda longe da definitiva. “Era uma canção simples com três quadras – aparentemente simples, como tantas canções desse cantautor genial”, escreveu o próprio num texto que acompanhou a edição de “Grândola, Vila Morena – Para sempre, José Afonso”, um CD-livro editado pela autarquia de Grândola em 2018.
Dizia tê-la cantado ao vivo apenas uma vez, na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense, à qual a dedicava, para a qual a tinha escrito afinal, contagiado pelo ambiente de “fraternidade” que por lá descobriu num encontro em Maio de 1964. Foi de José Mário Branco a ideia dos arranjos seguindo a estrutura tradicional do cante alentejano: “A sequência do ponto (solista inicial), do alto (introdutor de uma segunda voz mais aguda) e do coro masculino grave.” De cante alentejano sabia há muito ele que, nascido e criado no Porto, desde “muito jovem” passara temporadas de férias na aldeia de Peroguarda, no Baixo Alentejo. Seria preciso dobrar ainda as quadras, cantar os versos invertidos, mas seria gravada mesmo assim, sem instrumentos.
Leia o artigo na íntegra na edição impressa do NOVO, nas bancas a 23 de Abril de 2021.