Candidatos contra “socialismo” do PSD

Quatro anos depois da estreia desastrosa nas regionais de 2019, Chega e Iniciativa Liberal apostam forte na eleição de deputados para a Assembleia Regional da Madeira a 24 de Setembro.

Mobilizar os descontentes com o governo de Miguel de Albuquerque, em busca de mais quatro anos no poder à frente da coligação PSD-CDS, e aproveitar as dificuldades do PS, que não deverá poder repetir a bipolarização conseguida pelo actual secretário de Estado Paulo Cafôfo, são as chaves para dois partidos que só convergem nas críticas aos “47 anos de socialismo” dos sociais-democratas. E na estratégia de aproveitar o mediatismo dos líderes partidários nacionais.

Neste domingo, véspera do início das jornadas parlamentares que a Iniciativa Liberal realiza na segunda e terça-feira na Madeira, será apresentado o programa e os nomes com que o partido pretende estrear-se na Assembleia Legislativa Regional, quatro anos depois de ter apenas 762 votos nas eleições que ditaram o fim da maioria absoluta do PSD, mas mantiveram os sociais-democratas no poder, pela primeira vez dividido com o CDS.

Novamente cabeça-de-lista da Iniciativa Liberal, Nuno Morna acredita que o “resultado inexpressivo” de 2019 não se repetirá. Além de contar com o apoio de Rui Rocha, de João Cotrim Figueiredo e dos restantes deputados do partido nos Jardins do Lido, no Funchal, às 11h30 de domingo, confia que a mensagem está a chegar aos madeirenses e porto-santenses pelos contactos de rua e “grupos de amigos e de amigos de amigos” que permitem ultrapassar o obstáculo da falta de reconhecimento.

Numa região com risco de pobreza na ordem dos 30%, só ligeiramente mais reduzido que o dos Açores, as propostas de redução de impostos sobressaem no eleitorado que se quer conquistar. “Falamos de pessoas que trabalham, têm o seu salário, e não conseguem fazer face às despesas”, diz o técnico de aeronáutica, de 61 anos, também actor e produtor teatral.

Lamentando que quase 50 anos de autonomia não tenham resultado em “mecanismos de criação de riqueza”, numa região que está dependente da “monocultura do turismo” e com a emigração como solução para a juventude, o cabeça-de-lista dos liberais aponta baterias a um poder que se alimenta da pobreza existente no arquipélago, com as casas do povo “a funcionarem como um braço armado do governo regional”.

Realçando que os mais inclinados a votar em si lhe deixam a indicação de que “não há coligações com ninguém”, Morna não poupa críticas ao partido até agora hegemónico na região.

“A política do PSD na Madeira é a mesma de qualquer outro socialismo: dá-lhes jeito ter pobres e criar dependência entre quem tem e quem dá, que se paga no dia das eleições.”

Apenas dois pontos aproximam o Chega do outro partido emergente a nível nacional, mas até agora ausente do parlamento regional. Um deles é a acusação de “socialismo” ao PSD, que tem governado a região autónoma, primeiro, com Alberto João Jardim, e, agora, com Miguel de Albuquerque, e a certeza de que não haverá desta vez um cenário de bipolarização entre a maioria (agora com PSD e CDS na mesma lista) e o PS.

Para Miguel Castro, de 50 anos, cabeça-de-lista do Chega nas eleições regionais marcadas para 24 de Setembro, com o objectivo de eleger pela primeira vez – em 2019, o partido não foi além de 619 votos, multiplicados por 11 nas legislativas de 2022 -, a “preocupação transversal a todo o país”, mas evidente na Madeira, com a “degradação das condições de vida”, aumenta as expectativas de que o eleitorado queira novas alternativas.

“O partido que governa a Madeira há 47 anos vai fazendo promessas que no próximo mandato é que serão para cumprir. E é sempre assim, a cada mandato”, acusa Miguel Castro, que aponta “muito pouca transparência” e “indícios de corrupção” ao governo regional.

O candidato, que já contou e irá contar mais vezes com a “presença carismática” de André Ventura na região, apresenta o Chega como um “partido reformista, conservador e humanista”, apostado numa “política para as pessoas, e não uma política de negócios”.

Acusando o actual e os anteriores governos regionais de “nivelarem a sociedade por baixo”, Miguel Castro acusa-os de “andarem a premiar quem não quer fazer nada”, mas coloca ênfase na resolução dos problemas de transportes públicos, coesão social e saúde, na medida em que não existe urgência médica na costa norte da ilha da Madeira.

Mesmo criticando “linhas vermelhas que não fazem sentido, seja à direita ou à esquerda”, o candidato do Chega garante que o partido vai a eleições “sozinho e sem pensar em acordos pré e pós-eleitorais”. Com a desvantagem de, tal como Nuno Morna, dificilmente ter hipóteses de debater com Albuquerque.