Bispos optaram pela continuidade na cúpula da Igreja portuguesa

D. José Ornelas foi reconduzido no cargo de presidente da Conferência Episcopal Portuguesa para o triénio 2023-2026.

Os bispos portugueses decidiram manter tudo como estava e reconduziram no cargo o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP). D. José Ornelas foi esta terça-feira reeleito para mais um mandato de três anos (2023-2026), acompanhado pelo mesmo vice-presidente, D. Virgílio Antunes, bispo de Coimbra, e pelo mesmo secretário, padre Manuel Barbosa. O escrutínio realizou-se em Fátima onde decorre até quinta-feira a Assembleia Plenária da CEP.

Foi o resultado esperado, atendendo à tradição. O presidente é sempre reeleito para um segundo mandato. D. José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima, foi muito criticado pela má gestão da comunicação quando o caso dos abusos sexuais na Igreja irrompeu na comunicação social. Os bispos falaram cada um para seu lado, tendo ele próprio causado algum mal-estar devido à notória impreparação para responder às perguntas dos jornalistas. Ao que apurou o NOVO, nesta eleição, os bispos das 21 dioceses – recorde-se que o Ordinariato Castrense é também considerado uma diocese -, preferiram valorizar o papel relevante de D. José Ornelas na criação de uma Comissão Independente (CI), supradiocesana, para investigar os abusos sexuais na Igreja. A criação daquele organismo, presidido pelo pedo-psiquiatra Pedro Strech, motivou muitas reacções negativas entre os bispos, tendo alguns, inclusive, mostrado relutância em colaborar na investigação.

O ambiente entre os prelados só acalmou quando os resultados foram apresentados, em Fevereiro. A comissão, durante um ano de trabalho, apurou que poderão ter sido vítimas de abuso às mãos de membros da Igreja 4815 menores, a maioria com média de 11 anos. Foram trabalhados dados dos últimos 72 anos, desde 1950, tendo sido validados 512 testemunhos de vítimas. A maioria dos abusadores eram padres: 77 por cento.

Ontem, em conferência de imprensa que abriu a Assembleia Plenária dos bispos portugueses, D. José Ornelas referiu-se ao trabalho da CI, destacando o “sentimento de profunda gratidão para com todos os que deram ‘voz ao silêncio’ e tiveram a coragem de denunciar aquilo que nunca lhes deveria ter acontecido”. Disse também que “semelhante reconhecimento dirige-se aos membros da CI, pelo contributo decisivo que deram para o conhecimento e denúncia destas situações”.

No sentido de demonstrar que as preocupações não estão ainda terminadas, o presidente da CEP anunciou, também ontem, a criação de um Grupo de Acompanhamento com a “autonomia necessária para acolher e acompanhar as vítimas e para assegurar o necessário apoio e a possível recuperação dos danos por elas sofridos, dispondo de uma linha de atendimento e de condições para o contacto e acompanhamento pessoal”.

A Assembleia Plenária termina na quinta-feira com a realização de uma jornada nacional de oração pelas vítimas de abusos sexuais, de poder e de consciência na Igreja, e, com esta intenção, os bispos vão celebrar uma eucaristia na Basílica da Santíssima Trindade, às 11 horas.