Bispos criam grupo de acompanhamento para vítimas de abuso sexual na Igreja Católica
Reunião plenária dos prelados das 20 dioceses portuguesas começou hoje em Fátima para eleger o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, devendo D. José Ornelas ser reconduzido.
A criação de um grupo de acompanhamento, de âmbito nacional, para trabalhar junto das vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica, e novas orientações para a formação dos que acompanham pessoas menores e fragilizadas foram duas das medidas anunciadas hoje pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), reunida em Fátima até quinta-feira para eleger os representantes dos vários órgãos da CEP. D. José Ornelas deverá ser reeleito presidente.
A assembleia plenária da CEP começou esta segunda-feira com uma conferência de imprensa em que o tema dos abusos sexuais era o que mais expectativa gerava. D. José Ornelas não fugiu ao tema, começando por afirmar que “nunca é demais renovar o pedido de perdão e o sentimento de profunda gratidão para com todos os que deram ‘voz ao silêncio’ e tiveram a coragem de denunciar aquilo que nunca lhes deveria ter acontecido”.
Nesse sentido, o presidente da CEP anunciou a criação de um grupo de acompanhamento, que “deverá ter a autonomia necessária para acolher e acompanhar as vítimas e para assegurar o necessário apoio e a possível recuperação dos danos por elas sofridos, dispondo de uma linha de atendimento e de condições para o contacto e acompanhamento pessoal”.
Explicou depois que esta “equipa de coordenação nacional” vai estar articulada com as comissões diocesanas, “de modo a garantir a sua real operacionalidade”. A identidade das pessoas que vão integrar o grupo de acompanhamento será conhecida na quinta-feira.
Na conferência de imprensa, D. José Ornelas anunciou ainda que vão ser revistos os programas de formação dos seminários e que as pessoas que desenvolvem actividades na Igreja junto de pessoas menores ou fragilizadas vão ser sujeitas também a novas acções de formação.
Segundo D. José Ornelas, os bispos vão realizar, esta quinta-feira, uma “jornada nacional de oração pelas vítimas de abusos sexuais, de poder e de consciência na Igreja”, para a qual pediu a “todo o clero e fiéis que se unam à Eucaristia que os bispos celebrarão por esta intenção, na Basílica da Santíssima Trindade, às 11 horas”.
A reeleição do actual presidente, D. José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima, é possível – e provável –, mas os responsáveis diocesanos estão preocupados com a forma como a Igreja comunica com a sociedade, sobretudo quando os dossiês são complicados. No caso dos abusos sexuais, que abalou todas as estruturas eclesiais, incluindo as que se julgavam acima de toda a suspeita, como é o caso da Opus Dei, a comunicação foi um desastre.
Neste aspecto, sabe o NOVO, os bispos estão divididos. A alteração, para uns, seria fundamental para a imagem da Igreja, acusando D. José Ornelas de “inseguro” perante os jornalistas. Outros, contudo, consideram que o modo de comunicar pode ser alterado sem ser necessário mudar o presidente da CEP.
O mais provável, segundo apurou o NOVO, é que mude apenas o secretário-geral, o padre Manuel Barbosa, passando o lugar a ser ocupado por um leigo, o que seria a primeira vez na história da CEP. A recente revisão dos estatutos, aprovada pelo Vaticano a 30 de Março, já o permite.
“É a primeira vez que há essa possibilidade de eleição. Este é um aspecto relevante também para a vida da CEP”, explicou à agência Ecclesia o padre Manuel Barbosa que, no início de Fevereiro, já nomeou uma mulher, Anabela Sousa, como assessora de comunicação.