O filão foi descoberto pelo canal norte-americano Hallmark, que há duas décadas produz em massa estas comédias românticas (exibidas entre nós no canal Fox Life). Seguiu-se, depois, o canal Lifetime, que também tem a sua quota-parte de produções natalícias de baixo custo. E, em 2017, a Netflix apanhou o comboio em direcção à terra do Pai Natal e desatou a produzir este tipo de filmes. “Herança de Natal” e “Príncipe de Natal”, lançados em 2017, foram dos primeiros originais da plataforma de streaming e, quatro anos volvidos, há tantos que é humanamente impossível consumi-los: “Um Castelo de Natal” (com Brooke Shields), “Um Natal na Califórnia”, “A Princesa Volta a Ser Plebeia… Outra Vez” (terceiro filme desta bizarra saga ao estilo de “O Diário de Uma Princesa”, mas em mau) e o inacreditavelmente mau “A Todos Um Bom Natal”, que tem um elenco escandalosamente bom, com John Cleese (sim, o dos Monty Python) e Kelsey Grammer (sim, o Frasier) à cabeça. Mas, se tudo é assim tão mau, porque não conseguimos parar de ver estes filmes? Pela previsibilidade, para começar. Há um sentimento de conforto e segurança no facto de, nos primeiros minutos, sabermos exactamente como a história vai acabar. Depois, pela comodidade. É o tipo de filme que podemos ver enquanto estamos a passar a ferro, a deslizar pelo Instagram, a correr na passadeira ou até a validar facturas na aplicação das Finanças. Se perdermos aqueles dez minutos em que a Candace e o John estão a andar de charrete no Central Park (leia-se um plano fechado num qualquer parque manhoso nos arredores de Toronto) e dão um beijo seco e desapaixonado, vamos perceber a história na mesma. Neste tipo de filmes não há spoilers possíveis, porque acabam todos da mesma forma. E isso não é necessariamente mau. Em 2019, a SIC foi o primeiro canal português a apostar neste filão, com “Um Desejo de Natal” (com uma qualidade bastante acima da média dos produtos Hallmark e Lifetime), e este ano é a vez de a TVI lançar o seu próprio telefilme de Natal. Se vai ser excelente? Provavelmente, não. Mas não importa, é Natal.