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AUTOR

Raquel Costa

user4089@novopt.pt


Porque gostamos de filmes de Natal de merda?

O filão foi descoberto pelo canal norte-americano Hallmark, que há duas décadas produz em massa estas comédias românticas (exibidas entre nós no canal Fox Life). Seguiu-se, depois, o canal Lifetime, que também tem a sua quota-parte de produções natalícias de baixo custo. E, em 2017, a Netflix apanhou o comboio em direcção à terra do Pai Natal e desatou a produzir este tipo de filmes. “Herança de Natal” e “Príncipe de Natal”, lançados em 2017, foram dos primeiros originais da plataforma de streaming e, quatro anos volvidos, há tantos que é humanamente impossível consumi-los: “Um Castelo de Natal” (com Brooke Shields), “Um Natal na Califórnia”, “A Princesa Volta a Ser Plebeia… Outra Vez” (terceiro filme desta bizarra saga ao estilo de “O Diário de Uma Princesa”, mas em mau) e o inacreditavelmente mau “A Todos Um Bom Natal”, que tem um elenco escandalosamente bom, com John Cleese (sim, o dos Monty Python) e Kelsey Grammer (sim, o Frasier) à cabeça. Mas, se tudo é assim tão mau, porque não conseguimos parar de ver estes filmes? Pela previsibilidade, para começar. Há um sentimento de conforto e segurança no facto de, nos primeiros minutos, sabermos exactamente como a história vai acabar. Depois, pela comodidade. É o tipo de filme que podemos ver enquanto estamos a passar a ferro, a deslizar pelo Instagram, a correr na passadeira ou até a validar facturas na aplicação das Finanças. Se perdermos aqueles dez minutos em que a Candace e o John estão a andar de charrete no Central Park (leia-se um plano fechado num qualquer parque manhoso nos arredores de Toronto) e dão um beijo seco e desapaixonado, vamos perceber a história na mesma. Neste tipo de filmes não há spoilers possíveis, porque acabam todos da mesma forma. E isso não é necessariamente mau. Em 2019, a SIC foi o primeiro canal português a apostar neste filão, com “Um Desejo de Natal” (com uma qualidade bastante acima da média dos produtos Hallmark e Lifetime), e este ano é a vez de a TVI lançar o seu próprio telefilme de Natal. Se vai ser excelente? Provavelmente, não. Mas não importa, é Natal.

Preciso de uma nova temporada de “Casados à primeira vista”. Já

Por cá, o “Big Brother” actualmente em exibição já deu o que tinha a dar. Esta edição arrasta-se penosamente, fruto de um casting que prometia muito mas que se revelou desequilibrado, e apoiou-se perigosamente em apenas uma concorrente: a vilã Ana Morina, que foi, até à expulsão, que aconteceu no domingo, 21 de Novembro, o epicentro de todo o conflito, logo, de toda a acção do programa. Para 2022 está já anunciada uma edição com famosos e, a não ser que a TVI abra os cordões à bolsa e trate de pagar bem a figuras públicas de primeira linha (nos mentideros corre já o nome de Bruno de Carvalho), teme-se fiasco.

O que esperar da CNN Portugal?

Quanto ao restante, aquele que tem disponibilidade para ver TV durante o dia mas não pertence à microbolha do Twitter, o que pode esperar? Dissequemos a grelha de programação. Os primeiros rostos que o telespectador verá, às 6h30, serão os de André Neto de Oliveira, Isaura Quevedo e Diana Bouça-Nova, no “Novo Dia”. E, aqui, a minha vénia a Diana Bouça-Nova, que em 2009 se estreou como apresentadora do programa da SIC Radical “Curto Circuito” e que conta com um currículo ímpar, tanto no entretenimento como na informação. Segue-se o “Hoje”, com Ana Guedes Rodrigues, “CNN Meio Dia”, com Cátia Nobre e José Carlos Araújo (que bom é voltar a vê-lo no papel de pivô), “Agora CNN”, com Rita Rodrigues e Pedro Bello Moraes. No acesso ao prime time, o “CNN Fim de Tarde”, com João Póvoa Marinheiro (que merecia maior destaque e promoção por ser um dos mais competentes e bem preparados pivôs da sua geração). À noite vem a falta de rasgo da CNN Portugal. O horário nobre do canal parece uma viagem à TVI do antigamente, com Judite Sousa e Júlio Magalhães das 21h às 22h. Depois chega o “CNN Prime Time”, com Ana Sofia Cardoso e Paulo Magalhães. Por fim, o “CNN Meia Noite”, com Cláudio Carvalho, que o canal “roubou” (e bem) à CMTV. E depois há um sem-número de comentadores em que a única pessoa com menos de 40 anos é Sebastião Bugalho, esse grande delfim do comentarismo luso. Como somos um país envelhecido e que adora repetir ad nauseam a máxima “a juventude está perdida”, até faz sentido. Quem é que quer realmente saber da opinião de millennials ou – na loucura – da geração Z? Ninguém (excepto aqueles que, eventualmente, ainda poderiam ser resgatados da cada vez maior tendência para nem sequer terem uma televisão em casa).

Para sempre Diogo Morgado

Mas vale muito a pena ver “Para Sempre”. E a primeira razão chama-se Diogo Morgado. O actor, que se estreou há 24 anos na novela da RTP “Terra Mãe”, está assombroso no papel de Pedro Valente. Diogo interpreta um protagonista atípico, com uma certa amoralidade, marcado por um passado de abandono e violência emocional. A intensidade da interpretação é tal que, quando Diogo Morgado está em cena, quase eclipsa quem está à sua volta. É a arte de quem, além do talento, tem um currículo recheado e diversificado, desde as novelas às séries, passando pelo cinema e também com uma carreira internacional, da qual ficará para a história o seu desempenho como Jesus Cristo na série “A Bíblia” e no filme “Son of God”. A célebre entrevista a Oprah Winfrey, que o cunhou como “hot Jesus”, deixou um rótulo que é francamente injusto porque Diogo Morgado é muito mais do que a interpretação na série/filme de qualidade questionável (é para ver num Domingo de Páscoa, mas não vai além disso). Mais: o formato novela, pela sua extensão e pelo facto de a narrativa não poder ser acelerada ou construída de forma mais complexa, acaba sempre por prejudicar actores como Diogo Morgado, que não se contentam com desempenhos mais padronizados ou papéis mais convencionais. É preciso também deixar um elogio à TVI por – finalmente! – dar a Marina Mota um papel que ela já há muito merecia: o de uma antagonista, com uma história à altura do imenso talento e versatilidade que a actriz tem e que vai muito além da comédia.

E se Portugal se tornasse a Hollywood da Europa?

“Glória”, com os numerosos antecedentes em que Portugal já provou, apesar da sua dimensão, ter talento e recursos para a produção de conteúdos audiovisuais para o mercado externo, pode ser uma ocasião única para se pensar em grande e de forma conjuntural. Este é um país que fica exactamente a meio caminho entre a América e a Europa. O território tem paisagens tão variadas que seria possível gravar uma alunagem, um duelo medieval, o spin-off belga de “O Sexo e a Cidade” ou um filme de terror passado numa floresta. Os seus profissionais do sector audiovisual já deram provas um pouco por todo mundo e, claro, é destino turístico apetecível. Quem é que quer ir para a cinzenta Madrid, quando pode rodar em Lisboa?

Ninguém quer cancelá-la, Clara Ferreira Alves

“Numa semana, o chamado movimento trans conseguiu querer cancelar Dave Chappelle na Netflix, prepara-se para fazer um protesto de modo que o comediante seja expelido… ele tem uns gracejos, até os das mulheres, a meu ver, são piores que os dos trans e, portanto, tem de ser cancelado”, começa por dizer. Depois, Clara Ferreira Alves continua: “Nesta fase da minha vida, provavelmente, também vou ser cancelada pelos trans, que eu nem sei muito bem o que é que são…” Alertada por Daniel Oliveira (o que não faz chorar) para a evidência – “são trans” -, Clara emenda e diz. “Eu sei o que são, mas, quer dizer, é confuso. Mas não sei se sabes que já são 23 siglas… Nós, de um modo geral, independentemente da cor, da filiação e da opção, devemos coexistir todos em paz, e o riso, e sobretudo quando o riso tem génio dentro, como o do Woody Allen tem, cancelado por outras razões, devemos ter alguma… Eu acho absolutamente perverso – isto é uma moda importada dos Estados Unidos – que a cultura contemporânea se dedique a cancelar algumas das pessoas mais importantes da cultura contemporânea.”

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