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Presidente à força

O seu Governo conseguiu unir a esquerda radical à direita radical, com tudo o que há pelo meio, trazendo para ministérios essenciais alguns dos melhores cérebros italianos. O PRR é dos mais competentes da Europa, os mercados estão confiantes e até se ganhou o Europeu de futebol. Tudo corre bem a Draghi, mas o futuro é incerto. Tal como Mario Monti, não terá capacidade para liderar uma força eleitoral vencedora, estando limitado a ficar até às próximas legislativas (no máximo em 2023). Com mais um ano e uns meses de mandato, a eleição presidencial tem mau timing. Por um lado, a eleição podia permitir-lhe sete anos de influência continuada no debate político de um sistema fragmentado. Por outro, perder poder executivo no início da implementação de fundos europeus é um perigo. Principalmente quando as sondagens dão maioria absoluta à extrema-direita, que viu o seu partido mais radical ficar fora deste Governo de salvação nacional.

Será o fim?

Parece tudo perdido para o internacionalismo liberal que estava tão triunfante nos anos 90. Biden está frágil; o Reino Unido, idem; e a França joga este ano o seu futuro. 2022 pode ser o ano da morte da ordem liberal, mas uma Alemanha revigorada e bons resultados para Biden e Macron, aliados a problemas na China com a covid-19, podem virar a maré. As democracias têm isto de bom: podem sempre reinventar-se. Mesmo que Biden perca as maiorias no Congresso, continuará a ter margem na política externa. Mesmo que Macron tenha de suar com a extrema-direita, deve ter uma vitória que o mantenha alinhado com os ambiciosos objetivos do novo Governo alemão. Já a China, se vir a sua estratégia de “zero covid” furada pela ómicron e se tiver um crash imobiliário, pode ver a sua estabilidade ameaçada, e a prosperidade que dela resulta é o principal garante de paz social. Há que manter a esperança.

Fórmula perdedora

A exposição da classe média à precariedade na última década deixou à beira do colapso um sistema onde a previdência é garantida pelo privado. Em vez de se adaptar a tempos em que o problema já não é o poder do Estado, mas sim o das grandes empresas que limitam a liberdade e se recusam a ter responsabilidade social, a direita chilena escolheu um regresso ao passado e um entrincheiramento em dogmas. Decidiu definir-se como antiesquerda em vez de repensar o que era a direita. Decidiu candidatar Kast, um Bolsonaro lá do sítio, que disfarça tão pouco o seu extremismo que usa orgulhosamente o apelido do seu avô, oficial nazi que fugiu para o Chile. O resultado foi uma derrota perante uma esquerda radicalizada na sua vontade de enterrar as reformas liberais feitas no Chile, tenham bons ou maus resultados. Já devíamos ter aprendido, mas continuamos na mesma.

Ruas da amargura

Nessa altura, o PPE governava metade dos países europeus e mais de metade da população europeia. Aglomerar sem critério para além do poder tinha sido um sucesso, a Europa estava moldada à imagem da sua direita. Ou, pelo menos, foi o que se pensou. Corroídos pelo radicalismo da extrema-direita que alimentaram, foram os franceses que caíram primeiro. Depois, vieram os periféricos novamente, com o eleitorado impaciente a não dar tréguas. E, aos poucos, o castelo de cartas mal-amanhado há 30 anos foi-se desfazendo.

Ladrar sem morder

Este é, aliás, um dos maiores problemas com as sanções, seja no Irão, Cuba ou Rússia: o alvo até pode ser a elite, mas quem paga é o povo. Isso facilita a vida dos déspotas, que culpam do mal-estar económico um inimigo externo e veem a sua incompetência passar entre os pingos da chuva.

Mundos paralelos

Triunfa Biden, que consegue passar uma reforma que Trump prometeu em 2015 e não cumpriu. Aliás, concordando ou não, as duas propostas mais populares de Trump em 2016 eram as infraestruturas e a saída do Afeganistão. Com menos tweets e mais trabalho, fez-se em nove meses.

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