Depois das festas começa o ano político. Voltam os problemas do quotidiano, o confronto parlamentar e as posições dos altos órgãos partidários. É para aí que passam as atenções dos média. Privilegia-se o conjuntural, pois é preciso ser rápido a tomar posições, preferencialmente de posição contrária às do adversário político. A substância passa a circunstancial, e as convicções e certezas do passado são reenquadradas em face do novo contexto e conveniências da táctica política. Há sempre um bom argumento!
No entanto, por terem natureza efémera e, muitas vezes, impactos colaterais que prejudicam a qualidade de vida de quem habita na cidade, é legítimo questionar o efectivo interesse público de certos eventos, nomeadamente quando são fundamentados por generalidades de mensuração indeterminada e impossível escrutínio. Sendo a cidade um ecossistema complexo de interesses divergentes, é cada vez mais importante existirem critérios objectivos que, com parcimónia, transparência e inteligência, demonstrem o interesse público das opções do município no apoio à organização de grandes eventos em Lisboa.
Lisboa é uma cidade deslumbrante, cosmopolita e única. O Tejo e a luz são a sua alma, e a sua história o nosso ADN. Mas Lisboa não é toda igual. Lisboa não é apenas aquela capital vibrante que atrai turistas de todo o mundo, a Lisboa dos grandes eventos, dos grandes monumentos, das grandes tendências. A Lisboa do Centro histórico, das Avenidas Novas ou do Parque das Nações. A Lisboa que domina as notícias que enchem as redes sociais. Há também uma outra Lisboa. Uma Lisboa envergonhada de que pouco se fala. Uma Lisboa tão grande ou até maior do que a primeira.
Mas não foi a primeira vez que Lisboa esteve no centro da discussão mundial sobre o futuro dos oceanos. Todos recordamos o enorme êxito e alcance da Expo 98, cujo tema lhe era dedicado. A ambição e visão estratégica da nossa cidade parecia tão determinada que “Lisboa Capital Atlântica da Europa” foi inclusive o título do Plano Director Municipal aprovado em 2002. No entanto, passaram mais de duas décadas e algumas das mensagens daquela altura permanecem actuais e, em alguns casos, até estamos piores. Lisboa ainda não é a capital atlântica da Europa.
Depois de a pandemia ter dado enorme visibilidade à excelente capacidade de organização logística do exército nacional, a guerra na Ucrânia trouxe a compreensão e a tolerância pública para que se reforce a despesa orçamental do Ministério da Defesa para níveis muito superiores aos observados nas últimas décadas. A NATO, organização que raramente era tema de destaque noticioso e a quem poucos reconheciam utilidade, é hoje genericamente aceite como estrutura fundamental para a segurança e unidade europeia, e em cujas decisões Portugal deve participar e contribuir — cenários que poucos anteviram, mas trouxeram um novo paradigma sobre o papel das Forças Armadas na sociedade portuguesa actual.
Durante dois dias, 50 cidadãos de Lisboa, seleccionados entre mais de 2300 inscritos, propuseram e debateram ideias de medidas e iniciativas políticas para a cidade subordinadas ao tema das alterações climáticas. No final foram compiladas 35 propostas que incluíram medidas globalmente consensuais, como a proposta de requalificação e devolução ao mercado de habitação das casas fechadas e devolutas, e outras mais polémicas, como a proposta de reduzir em 80% a entrada de automóveis na cidade e na Área Metropolitana de Lisboa até 2048! De acordo com o edil, as propostas aprovadas serão trabalhadas pelos serviços da câmara, com acompanhamento e envolvimento de representantes do CCL nas reuniões de trabalho.