O sector público tem vindo a perder competitividade na atracção de jovens médicos e, ao mesmo tempo, a diminuir a capacidade de retenção dos mais velhos e mais experientes. Existe, sem dúvida, uma tensão competitiva pelos recursos em desfavor do SNS. Muitos reclamam medidas de retenção forçada ou administrativa dos profissionais, em particular dos médicos, para os “obrigar” a pagar uma alegada “dívida” relativa ao ensino pré-graduado e à sua formação especializada. Nada de mais absurdo, ilegítimo e errado se poderia encontrar como medida improvisada para dar resposta a um problema de fundo. Um problema que tem de ser resolvido construindo soluções com os médicos e que em nada beneficiaria de abordagens impulsivas de curto prazo. Existem, sem dúvida, problemas nas relações de fronteira entre os sectores público, privado e social. Parte desses problemas resultam de falhas na organização do sistema público, de uma excessiva fragmentação do sistema, com um flagrante desalinhamento entre respostas e necessidades, entre procura e oferta. Um dos aspectos críticos deste problema está na assimetria de critérios, de harmonização de procedimentos, da tipologia de equipas e da exigência relativa entre as diferentes componentes do sistema, no seu conjunto. Hoje é fácil discriminar a qualidade relativa entre prestadores, não apenas no sector público como também no sector privado. Um maior equilíbrio nos critérios de qualidade ajudará a reduzir a indesejável fragmentação, geradora de redundâncias inúteis e ineficientes. Por fim, a questão seguramente mais importante e imperativa: a resposta ao reequilíbrio das condições de trabalho e de remuneração dos médicos, ao longo do seu percurso profissional, no SNS. Não vale a pena retardar por muito mais tempo a resolução de um problema que está no epicentro das dificuldades que se vivem todos os dias. A par da questão remuneratória e do modelo de desenvolvimento de projecto profissional é fundamental aliviar a pressão crescente nos serviços de urgência dos hospitais. Este é um factor de desespero que pressiona, para além dos limites razoáveis, a vida pessoal e profissional dos jovens médicos. Ao mesmo tempo, trabalhar intensamente na diminuição do tempo gasto em tarefas não clínicas, libertando espaço vital para o exercício da medicina e para a relação com o doente.