No outro lado do Atlântico, a América encontra-se profundamente dividida, não apenas politicamente. É um país claramente a duas velocidades. Há a realidade dos grandes centros urbanos, com pessoas mais qualificadas, onde as grandes empresas se situam, politicamente liberais, votando tradicionalmente nas últimas três décadas nos democratas. E há o mundo rural com localidades pequenas, pouca instrução, muito conservadora e altamente susceptível a mensagens populistas e nacionalistas, e é onde o Partido Republicano actualmente vai buscar o grosso dos seus votos. Poderei estar a incorrer numa imagem demasiado simplista, mas o mapa dos resultados eleitorais traduz-se nisto.
Nas eleições presidenciais de 2020, na disputa entre Biden e Trump, Joe Biden ganhou o voto popular em 25 Estados e Donald Trump ganhou o voto popular em 25 Estados. Ou seja, dividiram completamente 50/50 o território nacional, apesar de, no total, Biden ter tido muito mais votos que Trump.
Há questões ideológicas de fundo.
É preciso compreender que este movimento de direita alternativa e populista que agora Trump lidera teve os seus primórdios nos anos 90, quando começaram as primeiras divisões acirradas no Congresso americano, quando Bill Clinton era Presidente, e foi evoluindo quando chegámos ao início da Presidência de Barack Obama, em que Joe Biden era vice-presidente, para o movimento Tea Party, que na altura mobilizou as bases do Partido Republicano, movidas por um populismo de extrema-direita e um activismo conservador, e que caracterizou a oposição republicana nesses anos. À época, opunham-se às grandes medidas da administração Obama de investimento no sistema nacional de saúde, o chamado ObamaCare, aos apoios financeiros recorde dados à economia e às famílias quando a América recuperava ainda da enorme crise do subprime, e às regulamentações de protecção ambiental e de comércio que, na altura, a administração de Obama estava a desenvolver e a implementar. Foram os primórdios da alt-right.
Tudo isto foi absorvido e influenciou o Partido Republicano. Aliás, foi tudo financiado por grandes empresários da direita radical que queriam impor uma agenda a esse partido, e a verdade é que conseguiram – e Donald Trump é um produto dessa subcultura.
Este movimento foi transposto para a Europa, com a devida consultoria americana, e o Chega é, em Portugal, a cara deste movimento populista.
Um movimento preocupante, pois tem como base a destruição dos nossos alicerces democráticos, com uma subversão completa dos equilíbrios de poder, utilizando quaisquer expedientes que lhe permita aumentar o seu apoio popular e, eventualmente, chegar um dia ao governo. Seria preocupante que isso acontecesse e espero que o PSD nunca sucumba a essa tentação. Em Itália, os extremistas já não precisam dos moderados para governar…