Nesta quinta feira, Ben Wallace, Secretário de Estado para a Defesa do Reino Unido, anunciou na Câmara dos Comuns que forneceram à Ucrânia o míssil de cruzeiro Storm Shadow. Anunciou também que o trabalho de integração estava concluído e que seria um elemento fundamental para dar à Ucrânia a possibilidade de atacar alvos em todo o seu território, Crimeia incluída. Garantiu também que o míssil não seria usado em território da Rússia e que este processo é totalmente independente da aquisição que o International Fund for Ukraine (IFU), do Ministério da Defesa Britânico, está a levar a cabo para a aquisição de mísseis de longo alcance.

Este é mais um momento único, e deveras importante, no apoio à Ucrânia. Abriu-se a porta para o fornecimento de sistemas que permitem o ataque preciso em profundidade. E, pelo que se vê, tendo em conta a experiência do passado, não tardarão a ser adicionados mais sistemas deste tipo. O Army Tactical Missile (ATACMS) que pode ser disparado do HIMARS ou do M270 MLRS encaixa na perfeição nos parâmetros de aquisição do IFU. As condições políticas para o seu fornecimento acabaram de ser criadas pelo Reino Unido. Assim a Administração Biden o entenda e os bloqueios que vêm da ala do Conselheiro de Segurança Nacional Jake Sullivan e do Departamento de Estado sejam ultrapassados.

Mas qual o verdadeiro impacto deste sistema? O míssil de cruzeiro Storm Shadow/SCALP, produzido pelo consórcio europeu MBDA, é um míssil de cruzeiro com, na versão de exportação, cerca de 250-300 kms de alcance, uma ogiva de 490 kg especialmente desenhada para alvos fortificados, possui guiamento por inércia, por GPS e por referência com o terreno através de um sensor de infravermelhos passivo. É extremamente preciso e furtivo, sendo difícil de interceptar, pois voa perto do solo para evitar ser detectado. Desta descrição é fácil de compreender o problema que este míssil vai gerar às forças russas. Um aspecto relevante é que se designa por também SCALP, pois essa é a versão que a França, a Itália e Grécia também utilizam, o que torna os stocks bem mais volumosos, se estes países também contribuírem.

Alvos estacionários de elevado valor como aeródromos, portos, bases navais, instalações de comando e controlo, depósitos de combustível, áreas logísticas passaram a estar ao alcance em qualquer sítio da Ucrânia. E, sim, a ponte de Kerch também. A Crimeia, sendo o terreno essencial deste conflito, passou a estar totalmente ao alcance da Ucrânia. E a Crimeia é uma península: destruindo portos, bases navais, aeroportos e a ponte de Kerch, conseguimos criar uma situação em que se torna extremamente difícil para as forças russas permanecerem na Crimeia.

Claro que é necessário cortar o corredor terreste para a Crimeia, para um mais efectivo e volumoso controlo pelo fogo da península. E depois será necessário tomar efectivamente a mesma. Mas a introdução de um sistema como o Storm Shadow/SCALP ajuda, e muito, a atacar em profundidade e com precisão complicando de forma muito significativa as decisões e a logística das forças Russas. Uma “sombra” acabou de se abater sobre os militares Russos na Ucrânia e com ela vem uma “tempestade”.