Como homem de esquerda, fico muito feliz com a recente e prolongada onda de sucessos do governo do nosso estimado dr. Costa.

Quando refiro “prolongada”, o leitor deve ter em mente o espaço temporal de uma semana.

A oposição direitola já vem dizer que uma semana não é nada, mas é importante ter em conta que o ponto de chegada depende do ponto de partida. Quando o ponto de partida era uma trapalhada por dia, devemos celebrar o actual ponto de chegada, que é uma semana inteira sem nenhuma asneira (pelo menos, evidente).

Há, neste “conseguimento”, a acção positiva do comando do Governo, executada de forma meritória pelo nosso primeiro-ministro. E conseguir estar uma semana sem asneiras é ainda mais louvável pois, nesta análise, deve ser tido em conta o elevado grau de dificuldade que é conseguir esse feito histórico num governo que tem ministros do calibre da dra. Ana Abrunhosa e do inigualável dr. Galamba.

Longe de mim insinuar que a dra. Abrunhosa ou o dr. Galamba não sejam ministros que abrilhantam qualquer governo. De modo algum. Poucos governos se podem orgulhar de ter tido ministros deste calibre intelectual. Infelizmente, a imprensa em Portugal é dominada por grupos de interesses neoliberais que tudo fazem para denegrir esses ministros. Cabe a nós, povo de esquerda, estar na trincheira onde o combate for mais difícil e nunca baixarmos as armas da defesa do governo socialista.

É verdade que a minha fé nos ministros deste governo, de vez em quando, sofre um abalo. Foi com esse temor que recebi a notícia de que a dra. Abrunhosa iria desfilar nas afamadas marchas de São João, pela freguesia da Correlhã. Mas revelaram-se infundados os meus receios, pois a ministra, longe de ter feito figura indigna, acabou por elevar a dignidade ministerial. Ia muito airosa e toda janota na sua fantasia de rainha. E que bem ficou sempre que acenava à populaça, que não disfarçava a sua surpresa por ver uma ministra nessa figura. O bom povo da freguesia da Correlhã, embora surpreendido, rejubilava de alegria com a sua rainha. E a ministra foi corajosa, pois podia ter sido demitida por se ter prestado a essa figura. Mas a dra. Abrunhosa, inspirada em D. Luísa de Gusmão, declarou no fim do desfile que “antes ser rainha por um dia do que ministra toda a vida”.

Esta ministra cresce bastante na minha estima e consideração. Despertou-me a atenção quando, há uns anos, se estreou nas notícias com a assombrosa e inédita façanha de ter trazido neve da serra da Estrela até Lisboa e, ainda por cima, em pleno Verão. Um feito que nenhum governo de direita alguma vez conseguiu realizar.

Por deficiência cognitiva minha, não compreendi o alcance deste acontecimento, que causou espanto e admiração em muita gente. Na altura, a ministra referiu, com muita propriedade, que o seu ministério iria apoiar quem doravante quisesse trazer mais neve da serra da Estrela até Lisboa. Passados estes anos todos, noto com alguma tristeza que ninguém quis repetir esta proeza e, assim, Lisboa tem ficado sem neve no Verão. Uma pena. Mas somos assim. Um povo que nem sempre está à altura dos seus ministros pois, quando estes apontam para as estrelas, a populaça olha para o dedo indicador.

Espero e faço votos de que a dra. Abrunhosa continue nessa senda que tanto nos anima. Concordo que a ministra não tem a craveira intelectual do saudoso ministro Cabrita, mas remedeia essa falha com a alegria que traz à governação. Uma vez que a acção do seu ministério é de difícil compreensão, pelo menos a ministra compensa animando as hostes nos encontros governamentais.

Bem sei que não se deixa ir abaixo com as críticas de quem não percebe a sua acção governativa. Há até alguns críticos mais oposicionistas que insinuam que o seu ministério não teria um propósito definido. Dizem que o problema não é o “definido”, mas sim o “propósito”. A essa gente maldosa, a ministra deve responder com o seu desprezo. Aos críticos responde-se com mais um desfile como rainha da freguesia da Correlhã. E, como as críticas continuarão, estou seguro de que brevemente a verei desfilar no Carnaval do Rio de Janeiro, mas não sem antes passar pelo Carnaval da Mealhada.

A direita irá continuar a insinuar que este governo é uma caquistocracia; por isso, o povo progressista precisa de continuar atento e actuante. A esta luta respondo: “Presente!”