Se há algo que costuma unir todos os povos é a tangível sensação de que o mundo precisa de mudar, evoluir, ter melhores condições de vida e futuros mais prósperos para a Humanidade. Claro que cada um tem as suas próprias visões e opiniões sobre os rumos que devem ser seguidos, mas, de maneira geral, todos concordam que ainda estamos aquém da utopia com a qual qualquer um de nós sonha.

Seja qual for o caminho, a História já nos ensinou qual é a maneira mais rápida de chegarmos onde desejamos: basta deixar-nos levar pelo simples (embora revolucionário) ato de ler. Mas de que forma o poderemos fazer?

Os antigos gregos foram responsáveis por alguns dos mais significativos saltos intelectuais da Humanidade. A partir do instante em que eles adaptaram (ou modernizaram, por assim dizer) o alfabeto fenício, deixando-o mais compreensível e acessível às massas, o conhecimento acelerou, fomentado pela expansão dos graus de leitura. Foi essa transmissão de conhecimento escrito que permitiu um inédito intercâmbio de ideias responsável, por exemplo, por invenções que vão do astrolábio (sem o qual nenhuma navegação teria sido possível), ao teatro, incluindo revoluções sem paralelo na medicina, na filosofia, na justiça e na matemática.

Enquanto, séculos depois, a Europa se focava em perseguir, torturar e queimar quem quer que se desviasse da linha de pensamento sócio-religioso ditada, a Arábia usava a sua política de tolerância e diversidade para partilhar e gerar conhecimento, possibilitando outras invenções revolucionárias como o conceito moderno de hospital, a oftalmologia, a álgebra, a universidade e até mesmo a escova de dentes.

O ponto comum entre os antigos gregos e os antigos árabes? O foco na palavra escrita, usada tanto para registar como para transmitir conhecimento. No instante em que, por diversos motivos que não vem ao caso analisar, as taxas de alfabetização e os hábitos de leitura diminuíram nas duas civilizações supracitadas, ambas entraram num acentuado declínio e perderam o protagonismo da História. Hoje, vivemos uma realidade muito diferente, mas a base para a evolução é a mesma: ler mais significa crescer mais, individual e coletivamente.

É ao ler que mais se retém conhecimento e que mais se aprende, sobretudo se forem livros em papel, de acordo com a análise realizada pela Universidade de Valência, em 2018. É ao ler, principalmente numa era abençoada pela altamente democrática literatura independente, que tomamos contacto com outras correntes de pensamento, com mundos diferentes dos nossos, com soluções alternativas para vários problemas, que recebemos inspiração para inovar em todas as artes e ciências responsáveis por fazer uma civilização avançar.

Quanto mais leitores um país tiver, maior a sua capacidade intelectual e inventiva e menores os limites para o seu crescimento. De acordo com a Lectus Pedia, que compara indicadores de leitura em diversos países (sempre com base em fontes oficiais), 49% da população adulta de Portugal lê, pelo menos, um livro por ano. Esta não é uma percentagem alta, deixando o país atrás da França (92%), dos EUA (73%), da Espanha (68,5%), da Itália (60%) e do Reino Unido (51%). Na lista, Portugal fica à frente apenas de três países: México (41,1%), Chile (44%) e Argentina (44,2%).

A óbvia necessidade de se mudar este indicador nacional deve ir além das sempre presentes queixas às políticas públicas: cabe a cada um de nós incentivar as nossas crianças e os nossos pares a lerem mais, a irem além da superficialidade de se informar com novidades para se formar com ideias. É apenas assim, abraçando o hábito da leitura, que conseguiremos evoluir como indivíduos, como sociedade e como povo.

Ricardo Almeida, CEO e fundador do Clube de Autores