Festa do Pontal PSD: Montenegro propõe programa de emergência social e avisa que Governo “merece ser despachado” Rentrée social-democrata contou com Pedro Passos Coelho, antigo primeiro-ministro, a surpresa da Festa do Pontal. Já o líder laranja prometeu mais escrutínio do Executivo e anunciou uma proposta para apoiar famílias que vale mil milhões de euros.
Partidos Uma rentrée focada nos serviços públicos, no custo de vida e até na protecção animal Os partidos regressam à actividade política no Algarve. A avaliação do estado do sector público será transversal, mas também haverá pressão sobre o Orçamento do Estado, tendo em conta o aumento generalizado dos preços. No PS, o caso de Sérgio Figueiredo causou incómodo, mas a ordem é para não falar do assunto. O discurso será virado para as respostas sociais, mas com contas certas. O PSD testa a sua força na mobilização para a tradicional Festa do Pontal.
Incêndios Incêndio na serra da Estrela tem três frentes activas e continua a preocupar O incêndio mobiliza mais de mil operacionais. As chamas já atingiram casas e obrigaram a evacuações. Autoridades estão preocupadas com a mudança de direcção do vento.
António Jaime Martins: “Os serviços jurídicos passam a ser prestados por sociedades de padeiros” O combate às sociedades multidisciplinares é uma das prioridades da candidatura de António Jaime Martins a bastonário da Ordem dos Advogados. Após ter ficado a 413 votos de Menezes Leitão em 2019, promete unir a classe, dignificar a profissão e apresentar soluções para a justiça.
Aeroportos Passageiros nos aeroportos sobem no 1.º semestre, aproximando-se de valores pré-pandemia O INE sublinha que este ano se tem verificado uma “tendência de aproximação aos níveis registados no período pré-pandémico”.
Bitcoin Bitcoin acima dos 23 mil dólares ainda não significa retoma A mais famosa moeda virtual estabilizou em torno dos 23/24 mil dólares, depois dos tombos do início do Verão. Eventual valorização estará dependente do contexto macroeconómico e das empresas de chips.
Papa Francisco Ucrânia convida Papa Francisco a visitar Bucha O representante da Ucrânia no Vaticano indicou que a visita ainda está a ser negociada.
Lula da Silva lidera sondagens no arranque da campanha eleitoral Além do presidente, cerca de 156 milhões de brasileiros vão eleger deputados estaduais, federais e distritais, senadores e governadores. No país pode-se votar a partir dos 16 anos. Aos 18, o voto torna-se obrigatório.
David Fonseca: “Diverte-me mais quando as pessoas me insultam do que quando me elogiam” “Living Room Bohemian Apocalypse” é o novo trabalho de David Fonseca, concebido durante a pandemia pelo artista que no próximo ano celebra 50 anos de vida e 25 de carreira. E diz ao NOVO que o palco continua a ser o espaço “impenetrável e livre” onde consegue multiplicar-se por mil.
Livros “O que ficará de nós quando já cá não estivermos?” Adolfo Luxúria Cabral, vocalista dos Mão Morta, é o autor do livro “O Crespos”. José Carlos Costa encarregou-se da ilustração.
Obituário O Genial que nunca foi pequeno Fernando Chalana deixou-nos na quarta-feira, 10 de Agosto. Pertence ao Olimpo do futebol português e do Benfica, clube onde destilou talento e ganhou seguidores.
MLS O ressurgimento do eldorado da MLS Outrora visto como um campeonato para onde estrelas veteranas rumavam para jogarem os últimos anos da carreira, a Major League Soccer está a atrair futebolistas que estão no seu auge e talentos promissores. O ano de 2022 está a ser dominado por contratações sonantes, com Gareth Bale no topo da lista.
Turismo sustentável Há recursos de sobra mas falta dinâmica para alavancar o turismo sustentável Existe uma maior preocupação com a sustentabilidade e o ambiente em Portugal, mas a estratégia em torno do turismo sustentável precisa de ser solidificada e as regiões e os produtos devem ser mais valorizados. O plano elaborado pelo Turismo de Portugal merece elogios. Pede-se, no entanto, mais acção a nível local.
Elon Musk Musk acusa a Twitter de fraude em processo contra a empresa O processo do multimilionário acusa a Twitter de violação de contracto, de reter informação e de induzir em erro a sua equipa relativamente à verdadeira base de utilizadores.
Opinião Militância partidária: ainda vale a pena? Ao nível partidário, Agosto é o mês “silly season” e de preparação para o ano político que se aproxima. Para aproveitar os últimos dias da euforia estival e dos longos dias livres permitidos pelo calor do Verão e pelas ansiadas férias, os partidos lançam as universidades de Verão e festas de rentrée, onde a boa música e a comida bem regada são sempre óptimos pretextos para atrair boas audiências militantes e ter destaque mediático nas TV sedentas de notícias. Há até os que afirmam que “não há festa como esta!”. E depois das festas? Depois das festas começa o ano político. Voltam os problemas do quotidiano, o confronto parlamentar e as posições dos altos órgãos partidários. É para aí que passam as atenções dos média. Privilegia-se o conjuntural, pois é preciso ser rápido a tomar posições, preferencialmente de posição contrária às do adversário político. A substância passa a circunstancial, e as convicções e certezas do passado são reenquadradas em face do novo contexto e conveniências da táctica política. Há sempre um bom argumento! E os militantes, que papel assumem? Desses espera-se apoio incondicional e compreensão para os motivos das falhas. Estimulam-se as redes sociais para que sejam óptimos instrumentos de ressonância dessa expressão. Episodicamente, organizam-se umas sessões de esclarecimento para sustentar o apoio e apregoar a importância da sua acção militante. Em pleno 2022, e numa sociedade cada vez mais informada e com inúmeras opções de entretenimento e participação fora da política, será o referido modelo de funcionamento partidário suficiente para manter a militância activa e, mais importante, contribuir para reforçar a reflexão estratégica e a pluralidade democrática dentro dos partidos? Pessoalmente, penso que não. Parece-me totalmente errado insistir em velhos métodos para alimentar novas realidades. Reconheço que muitos discordarão de mim. Muitos dirão que os partidos até têm vindo a aumentar o seu número de militantes. Mas, pergunto, com que resultados práticos? De acordo com uma recente notícia do Observador, os maiores partidos portugueses têm ambos mais de 80 mil militantes. No entanto, nas eleições que ditaram os seus actuais líderes, apenas cerca de 20 mil militantes, ou seja, apenas 25% exerceram o seu direito de voto! É um nível de abstenção superior ao das eleições menos participadas de âmbito nacional, com a agravante de as eleições partidárias permitirem mecanismos de participação muito mais simples e facilitados (por exemplo, o voto via telemóvel). Parece um enorme paradoxo! Ser simultaneamente militante e abstencionista. Em teoria, são duas atitudes contrárias. A militância pressupõe activismo, participação, crença, vontade de mudar e de contribuir. A abstenção expressa indiferença, desânimo, descrença na participação e reconhecimento de incapacidade para mudar o statu quo. Militância é motivação, abstenção é desmotivação. Quando cerca de 75% dos militantes nem sequer votam nas eleições mais importantes dos seus partidos, eles não estão apenas a abdicar de um direito, estão a revelar que já não sentem significado ou utilidade na sua acção militante. Se isto não é um claro sinal de crise e de desvalorização da condição militante, é porque, de facto, a condição militante já não tem grande significado. O pior é que também existem sinais de que não se pretende que tenha! Por exemplo, alguém teve conhecimento e participou num debate dentro dos partidos sobre as razões para este facto? Se houve, eu fui dos que não tiveram conhecimento! Nos dias de hoje, e para o statu quo dominante, até que ponto a militância activa é realmente importante? É, com certeza, muito útil em períodos de campanha eleitoral. São voluntários que carregam acrítica e entusiasticamente os candidatos escolhidos em círculo fechado. Concluídas as eleições, servem de muito pouco! Não há espaço nem tempo para que participem no debate das opções políticas. Para o statu quo, tudo está bem delegado nos candidatos eleitos. Não há grande espaço para o escrutínio, e a critica interna, mesmo quando fundamentada e construtiva, é normalmente entendida como um ataque ao partido com réplicas de incendimento nas redes sociais! Do género: quando concordem, manifestem-se com aplauso; quando discordem, mantenham reserva. Para as propostas dos adversários, é o contrário: quando concordem, mantenham reserva; quando discordem, manifestem-se com forte repúdio. Em teoria de marketing, a expressão WIIFM, acrónimo de “what’s in it for me?” (ou, mal traduzido, “o que ganho com isso?”), é usada para descrever a posição de um consumidor perante a opção de comprar um produto. Ou seja, o consumidor tem de percepcionar valor ou utilidade num produto para que se sinta motivado a comprar. Usando esta teoria, o que ainda motiva a militância partidária? Não sejamos ingénuos: a dimensão e o peso do Estado na economia são, claramente, um dos motivos. Muito do crescimento recente nos números de adesões de militantes têm, claramente, uma orientação de interesse pessoal, e não de serviço público ou crença ideológica. Enraizou-se o estereótipo de que a condição de militante “facilita a abertura de portas” e, perversamente para o espírito militante, muitos não hesitaram em tentar a oportunidade (alguns com êxito). Mas estas adesões oportunistas tem um perfil efémero e acrítico, pelo que pouco contribuem para o desenvolvimento do pluralismo e o progresso ideológico dos partidos. Com o surgimento de novos partidos com mensagens mais inovadoras e diferenciadas, os partidos tradicionais perdem atractividade e capacidade de retenção militante. Se não mudarem de estilo na forma como se relacionam com os seus militantes, estou certo de que tenderão a circunscrever-se a apenas dois tipos de militantes: os militantes por sentido de obrigação, quer por terem sido eleitos ou nomeados ou por aspirarem a cargos de eleição ou nomeação; e os militantes por sentimento enraizado de pertença, cuja lealdade incondicional se justifica muito mais pela sua vivência histórica no partido do que pela defesa das opções políticas do presente. Infelizmente, não chegam para aspirarmos a melhor democracia dentro dos partidos nem à reflexão estratégica que nos conduza a melhores opções políticas para o futuro. A militância partidária teve um papel fundamental na construção do Portugal pós-25 de Abril. A nossa democracia tinha bases muito frágeis e a militância partidária foi essencial para estimular o envolvimento, genuíno e desinteressado, da participação dos cidadãos na consolidação do regime. Mas a realidade de outrora é muito diferente da actual. Hoje há novos desafios e novas ameaças, mas também há novos meios e novas capacidades. Há que caminhar para maior TRANSPARÊNCIA e ABERTURA na forma como se governam as estruturas partidárias. É necessário um NOVO ESTILO DE GOVERNAÇÃO que mobilize e valorize a participação militante na reflexão estratégica e no escrutínio positivo dos eleitos do próprio partido. Que priorize as competências e permita maior pluralismo e alternativas na escolha dos candidatos a eleições. Um modelo que faça VOLTAR a ACREDITAR que ainda vale a pena ser militante. Um modelo de militância smart.
Opinião O futuro do Ocidente joga-se na frente e na retaguarda Os Estados Unidos, após a ruptura psicológica estabelecida pela irrupção de Donald Trump na política americana, e mesmo após a sua derrota inequívoca nas eleições presidenciais de Novembro de 2020, encontram-se num periclitante equilíbrio perante um abismo de proporções políticas, sociais e internacionais verdadeiramente impensáveis. A radicalização e a tribalização do discurso político e cultural nos Estados Unidos constituem hoje um progressivo factor de incapacitação do próprio sistema político americano. A verdade é que a América, o grande arsenal económico, político, cultural e militar das nossas democracias ocidentais, encontra-se hoje dilacerada e em luta consigo mesma. As repercussões de uma inédita tentativa de golpe liderada por um presidente que, mesmo derrotado, continua a capturar o Partido Republicano e a afrontar as instituições americanas, e que nomeou três dos cinco juízes que têm emitido um conjunto de decisões judiciais que dividem profundamente os Estados Unidos, são ainda imperscrutáveis em toda a sua magnitude. É preciso recordar que, há dois anos, não foi apenas precisa uma massiva reacção eleitoral dos americanos, que o fez perder a eleição de 2020 por mais de sete milhões de votos no país, com uma diferença inequívoca no Colégio Eleitoral, para finalmente afastar Donald Trump da Presidência e da política americana. Foi mesmo preciso que o sistema derrotasse uma tentativa de golpe materializado na tentativa de insurreição e captura física e violenta do Congresso norte-americano por milícias ao serviço do trumpismo, com comando e articulação junto dos mais altos níveis da administração. Constitui mesmo um verdadeiro alerta e demonstração da fragilidade inerente a todas as democracias (mesmo a mais poderosa e historicamente consolidada, como a norte-americana) que um demagogo se tenha alçado à Presidência e que, apesar de ter perdido inequivocamente uma eleição, de ter sido impugnado duas vezes, de ter sido sujeito de interesse em várias investigações judiciais federais (sobre a insurreição do Capitólio, sobre o extravio de documentos confidenciais da Casa Branca e sobre tentativa de fraude eleitoral a nível federal) e várias investigações estaduais (várias fraudes financeiras, violações de regras estabelecidas pela Comissão de Valores Mobiliários e tentativa de interferência criminal nas eleições na Geórgia), seja ainda hoje o mais que provável candidato da direita americana nas próximas eleições presidenciais de 2024. Isto revela como a direita americana está capturada pelo fundamentalismo e pela demagogia e como sacrificou a própria ideia democrática ao objectivo do domínio do poder. Nesse sentido, a actual direita fundamentalista americana é hoje um verdadeiro cavalo de Tróia na fortaleza americana e constitui objectivamente uma ameaça existencial à América democrática e liberal e, consequentemente, ao consenso ocidental estabelecido após o fim da Segunda Guerra Mundial. E tudo indica que este é um problema que veio para ficar durante os próximos anos, com ou sem Donald Trump. Em bom rigor, este é um problema que precede em muitas décadas a ascensão de Trump. Está mesmo inscrito nas raízes da história americana que provocaram a Guerra Civil e a sua subsistência na nação americana mesmo após a derrota militar do Velho Sul. As actuais fracturas identitárias e raciais remontam ao problema da escravatura e têm sido constantemente insufladas após a grande reforma dos direitos civis dos anos 60 e 70 do século XX. O papel da mulher na sociedade após a sua emancipação política, através da instituição do direito de voto feminino, é ainda hoje matéria de ressentimento em vários sectores da direita americana. A crescente secularização da vida social e a emancipação de cada vez mais cidadãos das suas igrejas de origem, com reflexos evidentes na esmagadora aceitação pelas populações da realidade social diferente da comunidade LGBT, cada vez mais diversa, tem feito ricochete no Bible Belt, fazendo substituir o tradicional cristianismo conservador compassivo por um evangelismo cada vez mais militante, zelota e agressivo. Nesse sentido, o assunto do aborto acaba por ser, ao mesmo tempo, o zénite do sucesso da reacção conservadora americana às grandes transformações políticas e sociais do século XX, mas também, paradoxalmente, o início do seu rotundo fracasso moral e cultural. A recente decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos (o caso Dobbs vs. Jackson Women’s Health Organization) exacerbou, talvez irremediavelmente, a polarização política nos Estados Unidos e o esboroar definitivo do grande consenso nacional social americano estabelecido após a era da prosperidade e a era dos direitos civis, periclitantemente firmado nas décadas de 50, 60 e 70 do século XX, apesar de todas as tensões e linhas de fractura sempre presentes e inerentes na história americana. A direita americana exagerou no exercício do seu poder. Abusou. E, como em todas as sociedades democráticas onde as maiorias políticas se jogam na moderação, as sociedades reagem. Ainda o mês passado, os americanos horrorizaram-se com o caso de uma menina do Ohio, de dez anos, que foi violada e ficou grávida de um familiar. O caso da miúda tornou-se o foco do debate sobre o aborto depois de o Supremo ter declarado a inexistência de qualquer direito constitucional ao mesmo. Essa decisão judicial desencadeou uma onda de restrições estaduais ao aborto, incluindo a entrada em vigor de uma lei no Ohio que proíbe o aborto após cerca de seis semanas de gravidez, sem excepção para violação ou incesto. A lei impediu, assim, que a menina de dez anos pudesse fazer um aborto no seu estado natal depois de os seus pais terem descoberto que estava grávida, tendo-os obrigado a tratar da criança no Indiana. Este tipo de violências, cometidas em nome de um fundamentalismo cego e cruel, estão a provocar uma reacção sísmica no ambiente político e social norte-americano. Apesar de tudo, e mesmo perante a crise existencial que está a viver, a democracia americana parece ser resiliente e forte e ter em si mesma as respostas aos extremismos. E começa a reagir àquilo que já se percebeu ser uma afronta às mulheres a reboque do respeito pelo princípio da iminência da vida humana. O desvio do foco político e cultural das questões da desigualdade social e económica e da promoção da prosperidade, para a alavancagem nas questões culturais mais divisivas como o aborto, poderá até trazer ganhos ilusórios de curto prazo, canalizando o ressentimento e a angústia popular contra as “elites liberais”. Foi essa a aposta da direita americana. Mas acaba por se virar sempre contra esses jogadores. Foi o que se viu na semana passada no Kansas, que é um dos estados mais conservadores do país. Há quase 90 anos que não elege um senador democrata e um dos estados onde a prática da religião é mais enraizada. E foi contra esse pano de fundo que os eleitores do Kansas rejeitaram maciçamente em referendo, por 58,78% contra 41,22%, uma proposta de emenda constitucional que bania todas as possibilidades de recurso à interrupção da gravidez. Isto é um claro sinal para uma América perigosamente dividida. E é uma mensagem poderosa para quem à direita aposta num conjunto de guerras culturais que dividem a América em duas metades irreconciliáveis, para garantir o seu ascendente. Desde o início do mandato de Joe Biden que a direita americana o tem menosprezado e subestimado. Parte substancial desse desdém provém do idadismo e do preconceito puro contra um homem de 80 anos que é o Presidente mais velho da história dos Estados Unidos. E parte de algum rancor assenta também no facto de Joe Biden ser apenas o segundo presidente católico da história americana, representando um catolicismo popular crescentemente emancipado da hierarquia conservadora da Igreja Católica americana, onde pontificam próceres da direita política como o cardeal Burke. Nesse sentido, o catolicismo professo de Joe Biden e Nancy Pelosi é sentido como uma provocação pela direita, constituindo ambos a personificação prática da desautorização da hierarquia rigorista e farisaica por milhões de católicos e católicas americanos. É precisamente aqui que reside toda a legitimidade e fundamentação da Presidência de Biden: o regresso à decência como um valor cívico fundamental e o regresso à normalidade como factor fundamental da vida em sociedade. Talvez para grande desilusão da esquerda americana, a legitimidade de Biden não se pode encontrar na transformação radical do país em favor da energia verde e da justiça racial. É antes o retorno à normalidade constitucional e o regresso ao espírito de compromisso que é o único que garante um módico de progresso, gradual mas sólido, ao país. Joe Biden tem garantido a NATO e defendido o Ocidente. E tem feito alguns progressos pragmáticos na política interna. Conseguiu um pacote de investimentos astronómicos na modernização das infra-estruturas do país e a primeira lei em décadas que limita um pouco o acesso às armas. E enquanto enfrenta a perspectiva de poder ter de vir a coexistir com uma futura Câmara dos Representantes republicana na segunda metade do seu mandato, ele tem de continuar (se a sua saúde o permitir) a garantir a normalidade institucional no país. É mesmo fundamental para a democracia americana que Biden consiga demonstrar que o governo federal ainda pode funcionar, que pode tentar resolver problemas emergentes e que o compromisso é uma virtude, e não uma fraqueza. Isto pode parecer-nos monótono. Mas o divertimento com o inferno de Trump é suicidário. Ainda que Joe Biden possa não se recandidatar com a sua idade em 2024 (82 anos), poderá deixar um legado sólido ao seu sucessor, de um mandato pragmático, que poderá constituir uma plataforma para desmantelar o extremismo que agora se infiltrou na direita. O Ocidente defende-se na linha da frente, na Ucrânia. Mas também se defende na retaguarda, na própria América.
Senado Insatisfação com a democracia Estou farto de abordar este assunto sobre desinteresse, insatisfação e desprezo pela democracia, mas pode ser que alguém leia e seja bem-vindo ao clube. Sinto-me como um tolo no meio da ponte: a minha consciência diz-me que não posso deixar de dizer o que me vai na alma; por outro lado, não vale a pena, é uma luta em que me sinto um pouco solitário, em que fico a falar sozinho. Estou muito insatisfeito com a democracia e alarmado com a abstenção, algo de que só se fala quando há eleições. Porventura são meia dúzia os que se preocupam com isso; o resto vive noutra onda e pouco se importa. Se calhar, eu é que estou errado. Os partidos políticos são plataformas e aparelhos que determinam o que fazer na política e menos fóruns de ideias e de debate. Como diz Michel Maffesoli, “o político é o contrário do que é a democracia; agora são uns poucos, uma aristocracia, quem governa”. Esta saturação e insurgência contra os partidos e os políticos, além de levar à indiferença, pode levar à ruptura do sistema. Precisamos de cidadãos informados, para que não sejam manipulados. Um estudo dado a conhecer há algum tempo, “A Qualidade da Democracia: A Perspectiva dos Cidadãos”, da autoria de António Costa Pinto, Pedro Luís de Sousa e Ekaterina Gorbunova, mostra que a insatisfação com a democracia está a aumentar: só 56% acreditam que a democracia é o melhor sistema político. O pior defeito da democracia são os chamados “picos de cidadania”, em que as pessoas vão votar. Pronto, já está! Esquecem-se que, depois, há um trabalho constante de informação e de questionar quem elegemos, donde o voto é uma maneira muito naïf de participar. O voto é uma maneira muito pobre de se saber o que as pessoas querem e desejam. A sociedade civil deve funcionar como contrapeso em relação às decisões políticas. Os partidos políticos são muito pouco flexíveis para incorporar a voz da cidadania. A democracia carece de contrapesos, de formas e fórmulas de controlo, de transparência, de participação, de cidadania. A falta de confiança e respeito pelos políticos deve-se aos seus exemplos pouco edificantes. O exemplo do nosso poder tem de ser igualado pelo poder do nosso exemplo. As instituições públicas devem estar ao serviço das pessoas, e não ao serviço de interesses e objectivos particulares e partidários. Os protagonistas têm de ser os cidadãos, com as suas exigências. Essa é a forma de lutar contra o desinteresse, a desconfiança e a abstenção. Os cidadãos acreditam cada vez menos nos políticos, sendo prova disso a fraca participação em actos eleitorais. Devemos estar todos preocupados. Contudo, a lei eleitoral permite que os políticos sejam eleitos com 10% dos votantes ou menos. Ao abster-se, as pessoas estão a dizer que estão furiosas, indignadas, que não confiam em nenhum político. Não os querem, não nos servem. A sua legitimidade está diminuída e este é mais um alerta para este sistema político caduco, decrépito e ególatra. Perante uma abstenção tão elevada e sempre a subir, as eleições deveriam ser anuladas e dar-se início à mudança na lei eleitoral. Os portugueses repudiam esta forma de fazer política em que os políticos parecem autistas e não ligam absolutamente nada ao que se passa à sua volta. A abstenção está a dizer alto e bom som, para quem queira ouvir: “Não gostamos desta democracia e as eleições converteram-se numa farsa.” Ao não se ir votar está-se a fazer uma forma de protesto por omissão. Esta democracia, o sistema e os seus actores, a maior parte das vezes não vão ao encontro dos cidadãos e estes não se revêem nesses líderes e protagonistas. O dever dos políticos é ir ao encontro dos cidadãos e estimular a sua participação. Devem exercer os cargos públicos com ética e rigor deontológico. Se não o fazem, há o direito de ir votar, mas também o direito de não ir votar conscientemente, e não por comodismo. Os políticos deveriam cumprir e executar o que prometem; de outra forma, deveriam ser penalizados. Um cidadão não tem como tirar um político do seu cargo, somente no fim do seu mandato, pelo voto, se ele mentiu e foi enganador durante a vigência desse mandato.
Figura da Semana Sérgio Figueiredo: o consultor que se tornou o homem mais bem pago no Ministério das Finanças
Figura da Semana Nuno Ribeiro da Silva: como se fosse um elefante em loja de equipamentos eléctricos de porcelana Nuno Ribeiro da Silva anteviu que “a partir do final de Agosto, mas já nas facturas eléctricas de Julho, as pessoas vão ter uma desagradável surpresa”, calculando que algumas veriam um aumento de 40%.