A televisão marcou a sua infância e a sua juventude. Era importante no contexto familiar?
Sim, era superimportante no contexto familiar. Nos anos 80, a televisão era o que unia as famílias à volta da sala. Tinha essa importância. Ainda hoje é assim. Pode não ser exactamente a ver televisão, mas a ver as aplicações que são transmitidas na televisão, as Netflixes da vida, a HBO. Sou, obviamente, daquela geração que acordava muito cedo, como todas as crianças. Ficava horas à espera do Vasco Granja e horas à espera dos desenhos animados - que não havia a facilidade que há hoje em dia -, e há programas que me lembro perfeitamente de ver com os meus pais. Víamos sempre o “Um, Dois, Três”. Adorava o “Um, Dois, Três”, com o Carlos Cruz, na altura. Depois via os clássicos, o Festival da Canção. Na TV Guia havia um quadro de votação nas páginas centrais e todos votávamos no Festival da Canção. Recentemente, apresentei o Festival da Canção. Nunca pensei algum dia apresentar o Festival da Canção. Como sabemos, durante muitos anos, o Festival da Canção também teve uma importância muito rudimentar. De há uns anos a esta parte, antes do Salvador Sobral, por terem mudado aquilo tudo e terem passado a convidar os compositores, hoje são os músicos do nosso país que querem ser convidados. Portanto, tudo isso mudou muito e tenho imenso orgulho de o fazer.
Quando percebeu que gostava de fazer carreira na televisão?
Eu soube desde sempre e a minha família soube desde sempre que eu havia de ter uma profissão ligada à comunicação, porque eu sempre fui a mais palhaça da turma e sempre fui a mais engraçada da ginástica do Sporting. Eu gostava e gosto muito de ver as pessoas felizes à minha volta. Isso continua a acontecer. Sei que tenho a possibilidade de conseguir que as pessoas estejam bem-dispostas quando estão perto de mim; portanto, fico contente com isso. Cheguei a tirar um curso de teatro, andei na ginástica 25 anos, andei na dança; portanto, tudo isto são formas de comunicação também. Na verdade, acho que não pensei logo em televisão, porque achava que talvez não fosse possível, que era um sonho quase inatingível. Ali a partir dos 11 anos, talvez, no ciclo preparatório, comecei a pôr os manuais à janela e lia a fingir que estava a apresentar o “Telejornal”, que eu sabia que aquelas pessoas não podiam estar a dizer aquilo tudo de cor. Acho que a paixão começou aí. Na altura, o que eu queria ser era jornalista.
O seu percurso na RTP começou com o teletexto. Hoje muitas pessoas nem devem saber o que é o teletexto mas, naquela altura, era fundamental. Como foi essa experiência?
Só dei o devido valor algum tempo mais tarde porque, quando entrei para a RTP, mandei um monte de currículos a dizer que estagiava de borla. Eles levaram aquilo demasiado a sério; portanto, efectivamente, estagiei sem ganhar nada durante mais de um ano ou até dois anos. Valeu a pena. Eu tinha um sonho e pensei que, quando me chamassem, ia logo lançada para o “Telejornal”. Claro que não é assim que isso acontece. Podia ter sido, mas não foi. Fui para o teletexto e lembro-me de chegar lá e pensar assim: “Valha-me Deus, não era bem este o sonho de televisão que tinha.” Mas tinha um chefe maravilhoso, o sr. Rhodes Sérgio, que foi muito importante para mim. Ele morreu há relativamente pouco tempo. Ele sabia perfeitamente que o meu lugar não era ali. Ensinou-me tudo o que eu tinha para aprender ali, mas ajudou-me a saltar dali. Ele conseguiu que eu fosse para a RTP África estagiar. Depois, saí da RTP África e ele conseguiu que fosse estagiar para o “Telejornal”. Portanto, foi uma pessoa mesmo muito importante para mim. Esse estágio, depois, terminou e fui à minha vida. Posteriormente, abriu um concurso público de jornalistas para a RTP. Concorri. De 600 e tal pessoas ficaram 24 e fui uma delas. Fiquei supercontente. Tivemos um curso muito intensivo no Lumiar. Entrámos os 24 para a direcção de informação, alguns foram escolhidos para fazer o “Bom Dia Portugal”, que se ia estrear e ainda está no ar. Depois, aquilo terminou. O Emídio Rangel foi para a RTP numa altura em que ele achava que não eram precisos tantos jornalistas e fomos novamente para a rua. O que foi incrível é que estávamos num jantar de despedida, todos a chorar, porque os três primeiros entrariam no quadro da RTP. Eu iria entrar directamente no quadro da RTP e, depois, já não havia nada. Entretanto, recebo uma chamada durante o jantar. Atendo e dizem-me que estão a falar do gabinete do Nuno Santos e que ele gostava de falar comigo no dia a seguir, e eu respondi “sim, deve ser, deve”, a pensar que era alguém que estava atrasado para o jantar e que estava a gozar comigo. Mas insistiram que era mesmo verdade. “Apareça que estou a falar a sério.” Cheguei lá a pensar que estavam a gozar com a minha cara e que ia passar uma vergonha. Mas cheguei e ele estava efectivamente à minha espera. Ia estrear a “Operação Triunfo” em Portugal em 2003 e precisavam de repórteres. O Nuno Santos já tinha o Daniel Oliveira a coordenar a equipa de repórteres e falou com a Judite Sousa e com a Alberta Marques Fernandes e perguntou se, daqueles miúdos que saíram, havia alguém que desse para o entretenimento. Disseram-lhe logo: “Sim, seguramente, a Tânia.” E começou aí uma linda história.
Como foi a passagem de repórter para apresentadora? Foi muito complicado fazer essa transição?
Complicado, não é, mas é completamente diferente. Acho que só me tornei apresentadora por ter feito muita reportagem. Fiz mesmo muitas horas de reportagem, muitas horas de directo, e aprendi imenso. Portanto, quando o Nuno Santos me dá, alguns anos depois, a oportunidade de apresentar a “Praça da Alegria” no mês de Agosto porque eram as férias da Sónia (Araújo) e do Jorge (Gabriel), fui eu e o Hélder (Reis) a apresentar - isto em 2005. Ia viver um mês para o Porto, tinha acabado de começar a namorar com o João em Fevereiro e ele não podia ir. Só pensava, “meu Deus”. Prioridades trocadas, mas fui, obviamente. Adorei a experiência, adorei a equipa da RTP Porto, tornei-me superamiga do Hélder Reis e percebi que também era capaz de fazer aquilo, dentro de portas. Acho que, a partir daí, não parei muito mais. Fui fazer a “Herança de Verão”, a substituir o José Carlos Malato no Verão, em horário nobre. Em 2007 comecei a apresentar o “Portugal no Coração” com o João Baião, aqui em Lisboa. E nunca mais deixei de fazer daytime, e estamos em 2023.
Imagina-se a fazer algo diferente do daytime?
Imagino-me perfeitamente a fazer uma coisa diferente. Mas esta é uma coisa de que gosto muito de fazer. É a linguagem televisiva em que me sinto mais à vontade e que acho que sei fazer melhor. Gosto muito de concursos também, gosto imenso de documentários, mas há tempo para tudo na vida. Agora sou muito feliz a fazer “A Nossa Tarde”.
É difícil estabelecer uma ligação com o telespectador?
Para mim, não, mas não faço nenhum esforço por criar esse tipo de ligação. Sou, naturalmente, uma pessoa muito comunicativa, gosto de falar com pessoas. Falo com as câmaras como se estivesse a falar com pessoas e falo com as pessoas que estão lá no estúdio de uma forma perfeitamente normal, como estou a falar consigo e como falo com as pessoas todas com quem me cruzo. Não me é complicado. Adoro ouvir e receber cartas. Recebo muitas cartas. Com algumas. emociono-me bastante, pessoas a dizerem que sou a única companhia durante todo o dia. Claro que não serei a única, outros colegas meus também serão. Mas pensar que a televisão é a única companhia de alguém deixa-me muito apreensiva até em relação ao futuro que estamos a dar a este a este país e à solidão das pessoas mais velhas. Algumas não precisam de ser sequer velhas, não é? Há muitas pessoas sozinhas. No entanto, acho que a verdadeira missão de serviço público da televisão é esta companhia que sei que faço e que gosto muito de fazer.
A solidão tornou-se ainda mais presente na altura da pandemia e com os confinamentos.
O meu programa foi o único de daytime, o meu e o da “Praça da Alegria”, que nem sequer pararam um dia. A SIC e a TVI pararam uma semana para redefinir o que iriam fazer e nós aprendemos ou reaprendemos a fazer televisão estando sempre no ar. Foi muito diferente. Foi um grande desafio, mas foi um desafio que, ao mesmo tempo, foi das alturas mais felizes para mim e em que senti que fazia mesmo a diferença na vida das pessoas. Porque as pessoas tinham muito medo, eu também tinha muito medo a fazer aquilo na altura, tínhamos muito poucos convidados, o estúdio ficou reduzido a pouquíssimas pessoas, tínhamos três câmaras - costumamos ter seis - e não tínhamos público. A RTP estava reduzida aos serviços mínimos, mesmo mínimos, as pessoas estavam em teletrabalho. Não estava lá ninguém, mas foi mágico ao mesmo tempo. Conseguimos fazer imensas surpresas através de videochamadas. Sabíamos que havia avós que estavam sozinhos e não podiam e já não viam os netos há muito tempo. Então, telefonávamos para casa dos avós. A avó ficava muito contente porque estava a falar comigo ao telefone, eu dizia-lhe, “agora, olhe aqui para a televisão, está a ver a RTP”, e ela respondia que sim. Dizia-lhe para continuar a ver e metíamos uma videochamada da família no ar. A senhora chorava, a família chorava, eu também chorava. Foi muito emocionante e muito útil. Tinha muitas saudades do formato normal, mas nunca mais me vou esquecer daquele formato.
Tem vivido as mudanças no país em termos sociais - crises, uma pandemia marcada por períodos de confinamento. Isso traduz-se em estados de espírito distintos das pessoas. Como se gerem essas emoções com os convidados e com os telespectadores?
Honestamente, não sei o que quer que responda.
Não deve ser fácil gerir essas emoções porque há estas oscilações.
Sim, há. Eu estava a fazer um programa de Carnaval mascarada de índia quando rebentou a guerra na Ucrânia, por exemplo. E saber gerir isso tudo... Esse programa era gravado porque, se fosse em directo, obviamente que não tinha ido para o ar. Foi para o ar depois. Mas eu tinha de estar muito feliz e muito bem-disposta num dia em que estava toda a gente a morrer de medo e tudo menos felizes e bem-dispostos. Esta questão das rendas e das casas: vemos aquilo na televisão e é terrível, mas conversar olhos nos olhos com alguém que perdeu a casa porque não tem como a pagar é uma coisa completamente diferente. O que sinto sempre é que aquele programa tem de servir para inspirar as pessoas a dar a volta por cima. Nunca pode servir para a pessoa que vai ali desabafar sair pior do que entrou e as pessoas que estão em casa ficarem tremendamente tristes com aquilo que ouviram. Tentamos sempre dar um bocadinho a volta ao texto e tentar convidar pessoas que dêem alguma resposta também. É uma ginástica grande, mas nós também temos um programa de daytime muito diferente dos outros que dão à mesma hora, o do Manuel Luís Goucha e o da Júlia Pinheiro. São formatos completamente diferentes. Temos um programa muito mais diversificado. Temos cozinha, temos música, temos um lado pedagógico obrigatório, temos dicas, temos directos, temos reportagem, temos a rubricas de “Por Amor à Tradição”, da Inês Carranca, temos o “Portugal Fenomenal” do Tiago Ferreira, que são as lendas de casas assombradas. É um programa muito diferente, muito diversificado, e é uma ginástica diária fazê-lo.
Uma das descrições sobre si que mais encontrei na minha pesquisa é que é uma das apresentadoras mais acarinhadas pelo público. É um reconhecimento do seu trabalho?
Claro, é o maior. Não há outro tão grande. É para o público que trabalhamos todos os dias. Não é para mim, não é para a minha família, que está a trabalhar a essa hora, não é para os meus filhos, que estão na escola. É para as pessoas onde quer que elas se encontrem porque, se fizer um exercício, como há pouco tempo fiz, de pensar quem me estará a ver agora, são pessoas nos mais diferentes fusos horários. Estão a ver-me em Angola, estão a ver-me no Dubai, no Brasil, no Luxemburgo, como também me estão a ver em Trás-os-Montes, nos Açores, numa ilha com quase ninguém, e ligam a televisão e eu estou lá. Portanto, isto é uma responsabilidade muito grande e não fujo a ela. Nunca deixo de ter borboletas no estômago antes de entrar. Quando ouço a música a começar, tudo o que se passa na minha vida durante aquelas duas horas e meia passa para segundo plano e estou ali entregue de alma e coração, superfocada nas pessoas, todas elas ou apenas uma que esteja a ver e para a qual aquele momento esteja a fazer a diferença, e eu sei que faz. É espectacular.
Tem trabalhado com vários apresentadores ao longo da sua carreira. Quais a marcaram mais?
Oh... [risos] Toda a gente sabe, não é?
Imagino que o João Baião seja um deles.
Claro. Tenho a sorte de trabalhar sempre com pessoas de quem gosto muito. Mas também, se pensar, não havia ninguém com quem nunca fosse trabalhar na minha vida. Absolutamente ninguém, seja qual for o canal. Mas, obviamente, o João Baião é uma pessoa fundamental. É dos meus melhores amigos, quase como um irmão. Trabalhei todos os dias com ele durante sete anos. Acompanhámos muita coisa da vida um do outro na altura. Morreu o pai do João, nasceu o meu filho, casei-me. Muita coisa aconteceu durante aqueles sete anos. Quando ele se foi embora foi um dia muito difícil para mim, muito triste. Até achava que nunca mais iria conseguir verbalizar uma palavra em televisão, porque me sentia tão triste e tão vazia por ele se ir embora. Percebi a sorte que tive por, durante sete anos, ser tão feliz todos os dias. Era mesmo bom. Ele foi-se embora, fiquei a fazer o programa sozinha durante algum tempo e depois juntei-me ao José Pedro Vasconcelos. O Zé Pedro é meu amigo de infância de Telheiras, conheço-o há anos e, portanto, foram quatro anos e meio muito felizes também. Gostei muito de trabalhar com o Zé Pedro a fazer o “Agora Nós”. Também nasceu outro filho e, agora, acabou. Até porque trabalho sozinha e não me dá jeito nenhum. [risos] Quem é que ficava lá? Divirto-me imenso a trabalhar com o Malato, é uma pessoa com quem adoro trabalhar. Somos muito parecidos e faço o Festival da Canção e os Santos Populares com ele. São noites nossas muito divertidas. Depois, trabalho pontualmente com outras pessoas, com o Jorge Gabriel e o Hélder Reis. Mas gosto muito de trabalhar com outros colegas. Estou a falar só de homens porque, se formos a pensar, trabalho mais com homens. Mas já apresentei o Festival da Canção com a Sónia Araújo e gostei imenso. Mas sim, tenho grandes colegas, grandes amigos na RTP, são muitos anos. Estou lá há mais de 20 anos, é muito tempo, e não rodamos muito de apresentadores na RTP.
Já apresenta “A Nossa Tarde” a solo há alguns anos. Como tem corrido essa experiência? Sente-se muito a diferença?
É diferente. Eu sou a mesma pessoa, comunico da mesma forma, mas, estando sozinha, levo a conversa exactamente para onde quero. Se estiver com outra pessoa, posso levar a conversa para um lado e a outra pessoa leva para outro. É completamente diferente. E “A Nossa Tarde” é um programa que foi feito para mim. A ideia do José Fragoso era sempre que fizesse o programa sozinha e, portanto, aquele programa começou a ser desenhado logo desde raiz para mim, com os meus gostos, com a minha forma de comunicar, com o que gosto de receber no programa, com o que gosto de ver na televisão. Nem sequer consigo imaginar “A Nossa Tarde” apresentada por duas pessoas. É diferente nesse sentido.
Tem trabalhado noutros projectos e já apresentou alguns concursos de cultura geral, que são sempre populares junto do público português. É um formato que gostava de repetir?
Gostava, gostava muito de voltar a apresentar um concurso de cultura geral. Para já, porque vejo na televisão. Não vejo novelas, que seria a alternativa àquela hora, e vejo desde sempre, quando era o Jorge (Gabriel) a apresentar, o Malato, agora o Vasco (Palmeirim). Acrescentam alguma coisa e acho que é um programa muito giro. Depois, porque me identifico muito com aquela forma de apresentação, porque vim da informação e faço muito infotainment, não sou propriamente entertainer. E também porque é o formato de que mais gosto a seguir ao daytime.
Há algum formato diferente que gostasse de experimentar?
Acho que não vou apresentar programas para sempre. Tenho 46 anos, não vou apresentar programas até aos 70, tenho mais que fazer na minha vida. Mas espero ainda estar muitos anos a fazer televisão, porque acho que o faço cada vez melhor. À medida que vou fazendo, vou aprendendo e, portanto, faço melhor televisão do que fazia há 20 anos, com outra maturidade, outra calma, outra segurança. Sei lidar bem com imprevistos, já há poucas coisas que me assustem ao ponto de ter vontade de fugir se isso me acontecer. Mas não apresentando programas para sempre. Há muita coisa gira para fazer na televisão, como coordenação de equipas. É algo que me imagino perfeitamente a fazer daqui a alguns anos, mas não daytime. Quando deixar o daytime, acabou, porque é muito trabalhoso.
O que lhe ensinou a televisão que mais nenhum trabalho poderia ensinar?
Acho que nenhuma profissão me faria feliz todos os dias. Até estou um bocado emocionada com essa pergunta e com a resposta que estou a dar. Sou mesmo feliz todos os dias, mesmo nos dias em que não me apetece. Toda a gente os tem. Não é porque há dias em que não me apetece nada estar toda maquilhada. Há dias em que não me apetece calçar uns saltos altos e estar toda bonita e feliz durante duas horas e meia a ter uma conversa mais dura, como acontece com todos. Mas, mal chego lá e começa o genérico, não sei o que acontece dentro de mim. Fico logo feliz, mesmo feliz. Sinto uma imensa gratidão, uma imensa felicidade, é um privilégio estar ali. E sei que é um privilégio que depende de outra pessoa porque, se um dia o director do programa chegar e disser que já estou desde 2007, há 16 anos, a fazer daytime ininterruptamente, e que é preciso mudar as caras, que remédio tenho eu, não é?
“O Nosso T2” já foi considerado um dos blogues mais importantes da Europa sobre maternidade. Esperava esse nível de sucesso?
Estava a dar os primeiros passos no meu Facebook quando o Tomás nasceu e senti que tinha muita coisa para dizer sobre aquilo, porque era uma revolução muito grande. E, às tantas, achava que aquilo não interessava às pessoas que me seguiam. Para já, eu não tinha uma página profissional, tinha uma página pessoal com amigos. Depois, julgava que eles deviam pensar “esta agora deve pensar que é a única mãe do mundo”, porque nós achamos sempre que só nós é que sentimos aquelas coisas. Isto do blogue foi para criar ali um canto para quem se identificasse visitar e foi crescendo, primeiro com partilhas. O meu filho mais velho era e é muito cómico, dizia coisas muito engraçadas que, depois, até deram origem a um livro. Depois passou a ter um consultório médico, passou a ter a parte da alimentação infantil, tem dicas de fim-de-semana. No fundo, é assim uma pequenina Time Out familiar e de maternidade. Fico muito contente que as pessoas continuem a identificar-se.
Como referiu, também se aventurou na literatura infantil. Gostava de escrever mais um livro?
Sim.
Está algo planeado?
Está no forno. Mas posso falar da edição em braille para o último livro que escrevi, “Manel, o Menino que Gostava de Comboios”. Eu escrevi uma trilogia de livros infantis e o livro do “Manel” foi traduzido em braille e distribuído pelas escolas onde havia pelo menos um menino cego. Algumas crianças não têm acesso a livros infantis em braille e, portanto, foi algo que me emocionou imenso e acabei por ter o privilégio de contar com a presença da secretária de Estado para a Inclusão (Ana Sofia Antunes) e do ministro da Educação na altura (Tiago Brandão Rodrigues) no lançamento deste projecto. Aceitaram prontamente o convite. Senti que um livro infantil podia ter uma importância muito maior e ver os miúdos na biblioteca sentados no chão a ler o livro com os dedos e manuseá-los foi lindo.
A família é muito importante para si. Embora tenha uma profissão exigente, consegue separá-la da sua vida pessoal?
Eu separo perfeitamente. Saio da RTP e acabou.
Desliga logo?
Fico uns minutos no carro e depois ponho a Marginal ou a Smooth FM e vou relaxadinha para casa. Mas tenho mesmo de desligar. Acho que é uma defesa do meu cérebro, porque há tanta informação... Conheço dez pessoas diferentes por dia, com vidas diferentes, e estudo as suas vidas. Se fosse acumular, já estava maluca. Saio dali e volto à estaca zero. Tenho uma profissão igual à das outras pessoas. Saio de casa e vou trabalhar, saio do trabalho e venho para casa. É tão exigente como qualquer outra profissão. Tem é visibilidade.
Numa folga ou de férias, qual é o dia perfeito para a Tânia Ribas de Oliveira?
Passar um dia na praia com os meus filhos, os meus amigos, a fazer desporto, o Tomás a fazer surf ou skimming, o Pedro a jogar Uno com os filhos dos nossos amigos, estarmos ali todos a descansar e a ver o pôr-do-sol. Depois, fazer uma jantarada com eles no final do dia. É espectacular. E temos um país incrível.