Chegado ao Parlamento apenas nesta legislatura, pois ficou de fora das listas de deputados do PSD em 2019, quando Rui Rio já o apresentava como o seu Centeno, Joaquim Miranda Sarmento esteve em foco no primeiro debate do estado da nação após ser eleito líder parlamentar do PSD.
Era inevitável que assim sucedesse, pois o professor universitário de 43 anos, que trocou o ISEG - Lisbon School of Economics and Management pela vizinha Assembleia da República, encontraria pela frente o rolo compressor de adversários políticos chamado António Costa.
Miranda Sarmento arrancou com referências ao “empobrecimento” dos portugueses e optou por uma ciência que conhece, acusando a governação socialista de impor uma carga fiscal “que atingiu máximos históricos” e de ter colocado Portugal com um rendimento per capita inferior ao de 2016. Por seu lado, o primeiro-ministro caracterizou o novo interlocutor como um “elo de ligação” entre a liderança de Rui Rio e o “regresso do passismo puro e duro”, naquilo que sintetizou como o “revelho PSD” de Luís Montenegro. E recorreu a um livro escrito por Miranda Sarmento em que este preconizou medidas como um IRS mínimo para quem nada contribui ou a reposição do IVA da restauração nos 23%.
O novo líder parlamentar social-democrata tentou apelar à “honestidade intelectual” do primeiro-ministro, aconselhando-o “a ler o livro todo, e não só a tabela que o assessor lhe passou”, o que contribuiu para que António Costa lhe respondesse num registo demolidor-bonacheirão, assegurando-lhe que abriria uma excepção na regra de só ler romances nas férias, “Sendo tão ricas as tabelas, imagino o que será o conteúdo total do livro”, gracejou.
As reacções ao primeiro duelo não foram cintilantes, havendo comentadores a salientar que Luís Montenegro sentiu necessidade de se fazer ouvir no final do debate. Na última página do Público, João Miguel Tavares fez título com o “roast de António Costa a Miranda Sarmento”, defendendo que “afastar Paulo Mota Pinto da liderança parlamentar do PSD foi uma péssima decisão de Luís Montenegro”.
Seja como for, ninguém deve esperar que o antigo “Centeno de Rio” deixe cair os braços ao primeiro embate, sendo uma peça importante na dinâmica com que Luís Montenegro, a quem coordenou a moção estratégia global para as directas de 28 de Maio, quer pôr fim à hegemonia do PS. Além de ter sido, até agora, presidente do conselho estratégico nacional do PSD, Miranda Sarmento foi assessor económico de Cavaco Silva no segundo mandato do antigo Presidente da República, consultor da Unidade Técnica de Apoio Orçamental e quadro do Ministério das Finanças.