Na cerimónia de tomada de posse dos novos elementos do XXIII Governo Constitucional quase passava por figurante, até porque todos os olhos estavam postos em João Galamba e Marina Sola Gonçalves, tornados ministros para partilhar a herança de Pedro Nuno Santos, mas Carla Alves pouco demorou a ganhar notoriedade. E a acrescentar extensão ao longo túnel de onde António Costa tarda a ver sair luminosidade.
Nomeada secretária de Estado da Agricultura, em substituição de Rui Martinho, cuja saída do Executivo foi justificada com questões de saúde, a até então directora regional de Agricultura e Pescas do Norte arriscava-se a passar despercebida por entre os estilhaços da mini-remodelação provocada pela indemnização de 500 mil euros pagos pela TAP à efémera secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis. Mas a primeira página do Correio da Manhã, que já dinamitara a carreira governativa da ex-presidente da NAV, revelou na manhã de quinta-feira que a recém-empossada governante tinha quatro contas bancárias conjuntas arrestadas devido a uma investigação judicial ao marido, Américo Pereira, ex-presidente da Câmara de Vinhais, que não tem explicação plausível para 700 mil euros que as autoridades acreditam ser o produto dos crimes de corrupção, prevaricação e participação económica em negócio.
Alvo de toda a oposição no debate da moção de censura apresentada pela Iniciativa Liberal, Carla Alves começou por contar com o respaldo do primeiro-ministro, mas teve o seu destino traçado a partir do momento em que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, deixou implícito que via a situação como uma “limitação política” para a secretária de Estado da Agricultura. Daí até à demissão, curtas 26 horas após a cerimónia de tomada de posse e sem sequer ter chegado a entrar no Ministério, tudo foi acelerado.
Formada em Engenharia Zootécnica e em Gestão, a técnica que ficará conhecida por ter sido secretária de Estado por um dia pertenceu aos quadros da Câmara de Vinhais durante 23 anos, incluindo 12 em que o presidente da autarquia transmontana era o seu marido. Segundo o Correio da Manhã, Carla Alves terá beneficiado o cunhado, com uma adjudicação no valor de 33 mil euros para desenvolver o site de uma associação de criadores de suínos na qual tinha responsabilidades.
E o Tribunal Administrativo e Fiscal de Mirandela indicou que foram pagos ilegalmente quase 68 mil euros em formações financiadas por fundos comunitários, quando Carla Alves era funcionária autárquica, estando impedida de fazer essa cobrança.