Em linha com o aumento da taxa de inflação e a subida do custo de vida, os portugueses têm cada vez mais dificuldades em pagar as contas. Quem o diz é a Associação da Defesa do Consumidor, Deco Proteste, face aos resultados do barómetro realizado em Dezembro do ano passado.
Segundo a mesma análise, em 2022, a maioria dos quase cinco mil portugueses que responderam ao inquérito da Deco garantiram que vive com dificuldades financeiras (66%). Já as famílias em situação crítica subiram para os 8% – mais 2% face a 2021. Numa situação dita como confortável estão apenas 26% dos agregados familiares. Para este ano, a Associação da Defesa do Consumidor revela que “as perspectivas não são mais animadoras, porque a tendência é para que o índice continue a descer.”
Em cinco anos de barómetro da Deco, que avalia a capacidade das famílias portuguesas de pagarem as despesas do dia-a-dia em seis áreas: alimentação, educação, habitação, lazer, mobilidade e saúde, “2022 foi o ano em que o índice atingiu o valor mais baixo: 42,1 – numa escala de 0 a 100 –, uma descida de 3,2 pontos face a 2021.”
Por regiões, o Alentejo (78%) e a Região Autónoma dos Açores (77%) foram as zonas geográficas onde mais famílias passaram por dificuldades financeiras. A fechar o pódio encontra-se o Algarve, com 74%. Por sua vez, Lisboa e Vale do Tejo foi a região onde menos famílias tiveram dificuldades em suportar os encargos (72%). Além da Região Autónoma dos Açores, as famílias com menos poder económico distribuíram-se de norte a sul: Vila Real, Aveiro, Viana do Castelo, Viseu, Santarém e Évora, onde Coimbra foi o distrito onde o desafogo financeiro é maior, destronando Portalegre, que desceu para meio da tabela.
Sector alimentar no topo das despesas mais difíceis de sustentar
De acordo com o mesmo barómetro, a habitação, alimentação e mobilidade foram as despesas que mais pesaram nas carteiras das famílias, no ano passado. Ainda assim, o destaque vai para os bens alimentícios, com a percentagem de famílias com dificuldade em pagar estas despesas a subir 15%, face ao período homólogo.
Quase 60% das famílias disse ter dificuldades em pagar produtos como o peixe e a carne, e mais de metade (51%) garantiu ser difícil suportar despesas tais como massas, arroz, iogurtes, entre outros.
No que concerne à habitação, a manutenção da casa e as facturas de água, gás e electricidade foram as despesas que mais complicaram os orçamentos da maioria das famílias portuguesas: 54% e 53%, respectivamente, assumiram dificuldade em suportá-las.
Por sua vez, na mobilidade, as despesas com o carro foram as que mais afectaram as carteiras portuguesas: 67% das famílias tiveram dificuldades em sustentar os gastos com combustíveis, seguros automóveis e manutenção do veículo.
Da alimentação às comunicações, eis as ideias da Deco para sobreviver à crise
Lançado esta quarta-feira, em dia que se assinala o Dia Mundial dos Direitos do Consumidor, o roteiro da Deco pretende incentivar o debate público sobre as condições de vida dos consumidores e assegurar a tomada de decisões que possam “promover o bem estar social e económico dos cidadãos”.
Entre as 18 sugestões da Deco estão, na área da alimentação, a criação de um observatório que fiscalize a evolução dos preços dos bens, bem como das práticas comerciais, e legislação que reforce a transparência e a obrigação de informação ao consumidor em produtos alvo de reduflação – quando reduzem as embalagens mantendo os preços.
Na área da mobilidade, a Deco defende o direito ao reembolso por parte de titulares de passes em caso de greve, a criação de uma tarifa social para os transportes públicos colectivos e a isenção de IVA no transporte ferroviário, incluindo no suplemento de bagagem pelo transporte de bicicletas e trotinetes.
Na habitação sugere incentivos fiscais e sociais “que garantam um verdadeiro equilíbrio e oferta no mercado”, a criação de “programas inclusivos” e adaptados às necessidades de todos os consumidores, que incluam o arrendamento e a aquisição de habitação própria e permanente, e menos burocracia no apoio ao desempenho energético habitacional.
Além da redução para 6% no IVA de todas as componentes da factura de electricidade e gás natural, a Deco propõe ainda a reavaliação dos critérios da tarifa social, tendo em consideração o actual contexto da inflação e o alargamento dos beneficiários relativamente ao gás natural, assim como a simplificação e apoio à mudança de comercializador.
Por fim, no que às comunicações electrónicas diz respeito, sugere a disponibilização, por parte de todos os operadores, de um pacote económico de serviços que inclua telefone (fixo e móvel), internet e TV (número reduzido de canais, mas de oferta variada), a preços reduzidos e sem contrapartidas.