CFP critica gestão de empresas públicas “sem qualquer expectativa de retorno”

Nazaré da Costa Cabral lembrou os “sorvedouros de dinheiros públicos com sucessivas injecções de capital” que revelam um “problema de gestão” no sector empresarial do Estado, visitando os casos da TAP, Parvalorem, saúde e transportes.

Nazaré da Costa Cabral critica a gestão “sem qualquer expectativa de retorno” do sector empresarial do Estado, não compreendendo a falta de rentabilidade de empresas sucessivamente apoiadas e que, portanto, contribuem para afectar ainda mais a sustentabilidade das finanças públicas nacionais.

A presidente do Conselho das Finanças Públicas (CFP) falava na Comissão de Orçamento e Finanças, esta quarta-feira, a propósito do relatório da instituição sobre as empresas na órbita do Estado, argumentando haver um “problema de gestão” nas mesmas que se traduz em resultados negativos sucessivos.

A situação é “preocupante”, com “empresas geralmente muito endividadas, com um rácio global na ordem dos 86%”, mas com “níveis de rendibilidade negativos, desde logo nas vendas, o que significa um problema de gestão” nestas empresas. Nazaré da Costa Cabral comparou a abordagem nacional à de outros países europeus, duvidando da capacidade destas empresas para reembolsarem o Estado português.

“São sorvedouros de dinheiros públicos com sucessivas injecções de capital”, afirmou. “O Governo tem de começar a olhar com outros olhos para como deve ser gerido o sector empresarial do Estado, quais devem ser as suas missões e, depois, garantir que seja, de facto, bem gerido.”

Olhando para o caso da TAP, por exemplo, a presidente do CFP aponta dois empréstimos “feitos a quase fundo perdido”, dada a baixa probabilidade de recuperação do investimento por parte dos contribuintes. Tal, continua, “contrasta com outras companhias aéreas que também tiveram uma situação difícil durante a pandemia”.

“No contexto da plausível privatização da companhia, ficamos com a ideia de que o Estado e os contribuintes nunca mais vão recuperar esse esforço”, resumiu, falando numa clara “perda de recursos” alocados à salvação da empresa.

Outro exemplo negativo é a Parvalorem, “a campeã dos capitais próprios negativos” e que constitui “uma ferida nas nossas finanças públicas que ainda está por ser resolvida”. Também a saúde e os transportes foram alvo de reparos, pelos impactos na sustentabilidade das finanças públicas, mas também pela qualidade do serviço prestado e pela origem do investimento nos próximos anos.

Nazaré da Costa Cabral lembrou que os fundos europeus têm um período delimitado no tempo, pelo que “muito do investimento previsto [...] não vai durar para sempre”. Por outro lado, a classificação contabilística de boa parte da despesa na saúde não só não permite ter métricas mais robustas e ilustrativas dos custos na área como degrada a qualidade do serviço prestado.

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