Desde que a guerra na Ucrânia começou, o cabaz de bens alimentares essenciais aumentou 14,83% face a fevereiro deste ano. A fatura para abastecer a despensa é agora de 210,85 euros, mais 27,22 euros, alerta Deco Proteste. Em nove meses, os preços do açúcar, laranja e pescada aumentaram mais de 40%. Aos produtos com maiores aumentos de preços juntam-se ainda a carne que subiu 21%, os lacticínios que estão 19% mais caros e frutas e legumes com aumentos de 15% nos preços desde o início da guerra. E, só numa semana, os douradinhos, carapau e peixe-espada aumentam mais de 50 cêntimos.
“O cabaz de bens alimentares essenciais custa atualmente 210,85 euros (mais 14,83%), mais 27,22 euros do que custava a 23 de fevereiro, véspera do início do conflito armado na Ucrânia e data em que iniciámos esta análise”, alerta nesta sexta-feira, 4 de novembro, a Deco Proteste.
Segundo esta entidade de defesa do consumidor, só numa semana, entre 26 de outubro e 2 de novembro, os douradinhos de peixe, o carapau e o peixe-espada-preto foram os produtos que registaram a maior subida de preço, com aumentos de 61 cêntimos, 54 cêntimos por quilo e 52 cêntimos por quilo, respetivamente.
A Deco Proteste dá conta de que os aumentos se têm feito sentir em todas as categorias alimentares. Entre 23 de fevereiro e 2 de novembro, a carne já registou um aumento de 21,17%. Nos laticínios, a segunda categoria com maiores subidas de preços, o aumento foi de 19,08%. As frutas e os legumes, por sua vez, viram os seus preços aumentar 15,27%; o peixe registou uma subida de 14,75%; na mercearia, o aumento chegou aos 11,84%; e nos congelados foi de 5,12%.
Desde 23 de fevereiro, a Deco Proteste tem monitorizado todas as quartas-feiras, com base nos preços recolhidos no dia anterior, os preços de um cabaz de 63 produtos alimentares essenciais que inclui bens como peru, frango, pescada, carapau, cebola, batata, cenoura, banana, maçã, laranja, arroz, esparguete, açúcar, fiambre, leite, queijo e manteiga. “Começa-se por calcular o preço médio por produto em todas as lojas online do nosso simulador em que se encontra disponível, e depois, somando o preço médio de todos os produtos, obtém-se o custo do cabaz para um determinado dia”, explica.
Esta análise, segundo a Deco, tem revelado aumentos quase todas as semanas, com alguns produtos a registarem subidas de preços de dois dígitos de uma semana para a outra. Na última semana, entre os dias 26 de outubro e 2 de novembro, os dez produtos com maiores subidas de preço foram os douradinhos de peixe (mais 15%), o carapau (mais 14%), o peixe-espada-preto (mais 8%), os medalhões de pescada (mais 6%), as ervilhas ultracongeladas (mais 6%), o peito de peru fatiado (mais 4%), o queijo flamengo (mais 4%), a carcaça tradicional (mais 4%), o atum posta em óleo vegetal (mais 3%) e o atum posta em azeite (mais 3%).
Já os dez produtos que mais viram o seu preço aumentar entre 23 de fevereiro e 2 de novembro foram o açúcar branco (mais 48%), a laranja (mais 47%), a pescada fresca (mais 46%), a polpa de tomate (mais 37%), a couve-coração (mais 36%), o carapau (mais 34%), o bife de peru (mais 33%), o leite UHT meio gordo (mais 32%), o frango inteiro (mais 30%) e a batata vermelha (mais 28%).
Dependência externa e aumento de custos de produção explicam aumento de preços
Na base do aumento dos preços dos bens alimentares, a Deco Proteste destaca que o problema é histórico: “Portugal está altamente dependente dos mercados externos para garantir o abastecimento dos cereais necessários ao consumo interno. Atualmente, estes representam apenas 3,5% da produção agrícola nacional — sobretudo milho (56%), trigo (19%) e arroz (16%)”.
Assim, Portugal está altamente dependente dos mercados externos para garantir o abastecimento dos cereais necessários ao consumo interno. Atualmente, estes representam apenas 3,5% da produção agrícola nacional — sobretudo milho (56%), trigo (19%) e arroz (16%). E, se no início da década de 90 a autossuficiência em cereais rondava os 50%, atualmente, o valor não ultrapassa os 19,4%, uma das percentagens mais baixas do mundo e que obriga o país a importar cerca de 80% dos cereais que consome.
E, prossegue, se no início da década de 90 a autossuficiência em cereais rondava os 50%, atualmente, o valor não ultrapassa os 19,4%, “uma das percentagens mais baixas do mundo”, frisa, dando conta que obriga o País a importar cerca de 80% dos cereais que consome.
“A invasão da Rússia à Ucrânia, de onde provém grande parte dos cereais consumidos na União Europeia, e em Portugal, veio, por isso, pressionar ainda mais um sector há meses a braços com as consequências de uma pandemia e de uma seca com forte impacto na produção e na criação de stocks”, conclui a Deco Proteste. Destaca aqui que a limitação da oferta de matérias-primas e o aumento dos custos de produção, nomeadamente da energia, necessária à produção agroalimentar, podem, por isso, estar a refletir-se num incremento dos preços nos mercados internacionais e, consequentemente, nos preços ao consumidor de produtos como a carne, os hortofrutícolas, os cereais de pequeno-almoço ou o óleo vegetal.
No peixe, por sua vez, a subida dos preços poderá estar a refletir o aumento dos preços dos combustíveis, que tem um elevado impacto na indústria da pesca, explica.
Aumento de preços faz disparar a taxa de inflação
Os consecutivos aumentos dos preços ao consumidor, nomeadamente em produtos como os combustíveis e a alimentação, estão a contribuir para um aumento da taxa de inflação. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de inflação chegou aos 10,2% em outubro deste ano, um aumento de 0,9 pontos percentuais em relação ao mês de setembro e a mais elevada desde outubro de 1992.