Martínez avesso a rupturas reforça defesa e mantém CR7

Três mexidas apenas em relação ao lote de jogadores que esteve no Mundial: espanhol chamou dois centrais esquerdinos, Gonçalo Inácio e Diogo Leite, e promoveu o regresso de Diogo Jota. O seleccionador tentou falar com Rafa, que não volta. Sobre a chamada de CR7, assume que “não” foi a decisão mais fácil.



Quem visse a primeira convocatória da selecção nacional de futebol com a assinatura de Roberto Martínez e não soubesse que Portugal tinha rescindido com Fernando Santos podia perfeitamente ser convencido de que o antecessor do espanhol ainda estava em funções. As mexidas foram poucas, não há sinal de qualquer revolução, e os mais antigos, como Ronaldo e Pepe, mantêm-se ao serviço da equipa das quinas. Até Rafa, com quem Roberto Martínez admitiu que tentou falar - não especificou se conseguiu -, continua convicto de que o seu ciclo na selecção nacional “está fechado”.

Sporting de regresso

Pois bem, perante isto há dados a reter para a convocatória para os encontros com Liechtenstein e Luxemburgo. O primeiro tem a ver com o regresso do Sporting às convocatórias, depois da ausência de futebolistas leoninos no Mundial do Catar - foi a primeira vez que o clube de Alvalade não teve nenhum representante na selecção nacional em fases finais. Gonçalo Inácio, “um jogador de muita personalidade”, como adjectivou Roberto Martínez, foi chamado numa tendência do espanhol que, já se percebeu, contempla um sistema de três centrais entre as suas opções. Para além do central verde-e-branco, o seleccionador convocou outro central esquerdino, Diogo Leite, jogador que está cedido pelo FC Porto aos alemães do Union Berlin. E não abdicou de nenhum daqueles que estiveram no Catar, ainda que tenha destacado a polivalência de Danilo Pereira, o que é “muito importante numa convocatória”. E este é um sinal que pode ser entendido como uma aposta num esquema de três defesas. “[Gonçalo Inácio e Diogo Leite] são dois jogadores que podem trazer algo de muito diferente à selecção”, revelou na conversa com os jornalistas, em que mostrou um enorme esforço para se expressar na língua portuguesa.

O compromisso

Comparando com o lote de 26 elementos que estiveram no Catar, saíram William Carvalho, Ricardo Horta e André Silva - todos por opção técnica, pois qualquer um deles está a jogar com assiduidade nos seus clubes. Para os seus lugares entraram os dois centrais esquerdino e Diogo Jota, avançado do Liverpool que ficou de fora do Mundial devido a lesão. Inclusivamente, Fernando Santos assumiu na altura que, se Diogo Jota estivesse apto, seria convocado para o Catar. A saída de André Silva pode ser entendida por ter perdido espaço para Gonçalo Ramos.

Um dos temas mais abordados na conferência de imprensa que se seguiu ao anúncio da convocatória esteve relacionado com Cristiano Ronaldo. Roberto Martínez teve uma resposta curiosa quando foi questionado se ponderou não chamar o madeirense. “Não digo que seja a decisão mais fácil... É importante tomar decisões para a equipa. No futebol trata-se de ganhar e de melhorar. Na minha carreira, nunca tomei decisões fáceis. A minha posição é tomar decisões importantes com visão de futuro”, sublinhou. Mas já antes tinha abordado o tema Ronaldo, tendo-o colocado ao mesmo nível que os restantes 25 convocados: “Conversei com os jogadores que estiveram no Catar porque precisava de saber o compromisso deles. O Cristiano Ronaldo é um jogador muito competitivo e comprometido. Pode dar experiência e é uma figura muito importante para a equipa. Eu não olho para a idade e outros aspectos. Acho que o Cristiano tem oportunidade para ajudar a equipa e passar a experiência. O Ronaldo é igual aos outros jogadores.”

Percebe-se que Roberto Martínez deixa subentendido que a renovação pode esperar, o que não deixa de ter alguma lógica quando se sabe que esta é a primeira convocatória da sua lavra - “um ponto de partida”, como identificou. Ou seja, mudanças drásticas podem ficar para mais tarde, com a almofada de algumas vitórias que venham a obter-se. Convém lembrar que, quando se realizar o Europeu, na Alemanha, agendado para o Verão do próximo ano, Pepe terá 41 anos, e Ronaldo 39. E este é o evento que o avançado do Al-Nassr colocou como objectivo em Setembro passado, como jogador da selecção. Depois do Catar, e como o NOVO avançou atempadamente, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) via com bons olhos o fim de ciclo do capitão na selecção. Contudo, esse não foi o entendimento de Cristiano Ronaldo, que prefere estender o seu percurso ao serviço de Portugal. E Roberto Martínez não considera “a idade um factor importante neste momento”.

Alento a “Tino” e Pote

No que toca a jogadores que estavam a perfilar-se como possíveis seleccionados mas que ficaram de fora, Roberto Martínez foi questionado sobre Galeno, Pedro Gonçalves e Florentino, mas referiu-se explicitamente apenas aos jogadores de Sporting e Benfica: “Temos muitos jogadores com qualidade para estarem aqui. O Pote está ao nível para jogar na selecção, mas temos muitos jogadores que jogam nos mesmos terrenos. Este estágio é um ponto de partida. Preciso de criar um ambiente competitivo e de alto nível. O Florentino e o Pedro Gonçalves são jogadores importantes, fazem parte da selecção.”

Roberto Martínez partiu de uma base de 200 futebolistas, reduziu-a para 50, como explicou numa entrevista ao canal da FPF, e agora salienta que há “35 jogadores” que podiam estar na convocatória.

Portugal inicia a qualificação para o Euro 2024 a 23 de Março, em Alvalade, com o Liechtenstein, e três dias depois joga no Luxemburgo. O grupo J contempla ainda Eslováquia, Islândia e Bósnia-Herzegovina.

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