Prémio Saramago “foi sempre um sonho” e restabelece a “crença” de Rafael Gallo

Fã do Nobel da Literatura, o escritor brasileiro que venceu o Prémio José Saramago com ‘Dor Fantasma’ fala da “realização de um grande sonho” e de uma conquista que, além de tudo o resto, muda a forma como olha para si mesmo.



Rafael Gallo, o brasileiro que venceu a 12.ª edição do Prémio José Saramago, confessa ao NOVO que conquistar este galardão “sempre foi um sonho” e assinala que o reconhecimento que alcançou com o romance inédito ‘Dor Fantasma’ o faz acreditar mais em si e na sua escrita: “Restabelece a crença, o sonho”, acrescenta.

Numa breve troca de mensagens com o NOVO, o escritor nascido em 1981 em São Paulo diz que alguns dos seus livros preferidos foram no passado distinguidos com o prémio que acaba de vencer. Pertencer agora a esse grupo, “é incrível”. Mais ainda “sendo um fã de Saramago”. Dos muitos livros do Prémio Nobel da Literatura, elege o Ensaio Sobre a Cegueira’ como o “favorito”.

Questionado sobre que impacto vai ter – e que já está a ter – a conquista deste prémio, o escritor diz ser difícil “medir objectivamente” porque “há muito que ainda está no futuro, inclusive a publicação do livro”. “Mas, de qualquer forma, já é a realização de um grande sonho e um reconhecimento que muda até [a forma] como olho para mim mesmo”. Ou seja, um reconhecimento que lhe restabelece “a crença”, completa.

Sob o pseudónimo Pestana, Gallo apresentou a concurso o romance inédito “Dor Fantasma”, que será publicado em Portugal pela Porto Editora, e no Brasil pela Globo Livros, sendo distribuída em todos os países da lusofonia. A obra conta a história de Rômulo Castelo, um pianista de música clássica, obcecado em alcançar a perfeição. Um acidente faz, no entanto, com que a sua mão direita seja amputada, deixando de ser aquilo que, para ele, o define, resume o autor.

O Prémio Literário José Saramago é promovido pela Fundação Círculo de Leitores e tem o apoio da Fundação José Saramago, da Porto Editora e da Globo Livros. O galardão foi entregue na passada segunda-feira durante uma cerimónia no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB), sala onde Saramago foi homenageado no ano em que foi distinguido com o Prémio Nobel da Literatura, em 1998.

Bruno Vieira Amaral, escritor distinguido com o Prémio Literário José Saramago 2015 e membro do júri desta edição, elogiou a qualidade, a arte e o engenho da escrita de Rafael Gallo: “É mão cirúrgica, aplicando incisões seguras e sábias, é mão de pintor, na pincelada criativa e intencional, é mão de maestro segurando a batuta e guiando a orquestra num crescendo de som e fúria que culmina no magistral desenlace do romance”, sublinhou, na cerimónia.

Rafael Gallo tem criado histórias e inventado personagens desde pequeno e as suas primeiras aventuras na literatura foram os contos que acabou por compilar num volume intitulado ‘Réveillon e Outros Dias’, que propôs a várias editoras, sem nunca ter sido aceite ou publicado.

Apesar disso, em 2012 concorreu ao Prémio SESC de Literatura, um concurso brasileiro para autores de obras inéditas, o que lhe deu a possibilidade de publicar o livro pela editora Record. Três anos depois, em 2015, lançou o seu primeiro romance, ‘Rebentar’, também pela editora Record, que foi distinguido com o Prémio São Paulo de Literatura, na categoria de autores estreantes com menos de 40 anos.

O Prémio Literário José Saramago foi instituído em 1999 e tem uma periodicidade bienal. A última edição deveria ter-se realizado em 2021; no entanto, a pandemia obrigou a que fosse adiada para 2022. Além da publicação da obra premiada, o galardoado recebe 40 mil euros.

Esta edição teve como jurados os escritores e anteriores premiados José Luís Peixoto, Gonçalo M. Tavares, João Tordo e Bruno Vieira Amaral, além de Pilar del Río, presidente da Fundação José Saramago, Guilhermina Gomes, em representação da Fundação Círculo de Leitores e presidente do júri, e a escritora brasileira Nélida Piñon, membro honorário.

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