O livro mais recente de José Luís Peixoto chama-se “Onde”. Sempre com vontade de experimentar novos desafios literários, esta é uma obra na qual o autor se propôs um novo exercício: explorar ainda mais Portugal - o país já tem sido bastante retratado nos livros do escritor -, dedicando especial atenção a localidades e lugares que escapam mais às suas geografias. “Sinto necessidade de expandir a minha acção e a minha atenção dentro do nosso país”, desvendou José Luís Peixoto, numa entrevista ao NOVO, ao falar sobre a sua obra.
Neste processo, o autor descobre um conjunto de locais na região Centro, mais precisamente em Abrantes, Constância e Sardoal. Este trio foi escolhido por serem lugares com os quais o escritor já tem “uma relação” mas que, nas suas palavras, “são um passo para lá daqueles que me são mais óbvios”.
Os textos de José Luís Peixoto versam sobre momentos, lugares, a vida que ali discorre. Em jardins, museus, igrejas ou praças, em Martinchel, Valhascos ou na Bemposta. “A Estrada Nacional 2 é um rio que corre nas duas direcções. Atravessa o país, atravessa o mundo, atravessa a Bemposta. Para uns, a foz é a nascente; para outros, a nascente é a nascente. Todos os que passam por esta estrada, numa ou noutra direcção, levam um pouco da Bemposta consigo”, relata o escritor sobre esta localidade do concelho de Abrantes.
O leitor acompanha e partilha a descoberta e as reflexões de José Luís Peixoto nestes locais mais incomuns, realidades diferentes do interior do país, onde o tempo abranda e o espaço se expande ainda mais e assume total preponderância. Paralelamente, esta é uma observação de Portugal, porventura um Portugal mais puro. “Onde” presenteia os leitores com revelações de um país à espera de ser conhecido e convida-os a entrar num universo onde há mais espaço para serenar. A imaginação flui e somos teletransportados para os lugares e momentos descritos por José Luís Peixoto. De repente, as paredes da nossa casa desaparecem e transformam-se num espaço aberto, num dos largos das aldeias visitadas em “Onde” pelo escritor ou na natureza que deslumbra na Aldeia do Mato. A viagem começa assim, porque onde é aqui e agora.
A aventura literária por Portugal e pelos seus recantos menos conhecidos não irá ficar por este volume e pela trilogia Abrantes, Constância e Sardoal, uma vez que José Luís Peixoto já sinalizou a intenção de dar continuidade a este trabalho em livros futuros.