A 93ª edição da Feira do Livro de Lisboa começa esta quinta-feira, dia 25 de Maio, e vai decorrer até ao dia 11 de Junho. Está assim de volta às suas datas tradicionais, as datas pré-pandemia. Como habitual o Parque Eduardo VII é o local que vai acolher o evento, que é uma verdadeira festa da literatura. As expectativas da organização são bastante positivas na antecâmara da feira.
A Feira do Livro de Lisboa mantém o número de pavilhões do ano passado, 340. A perspectiva até era expandir o espaço e ter mais pavilhões este ano, mas a preparação para a Jornada Mundial da Juventude (JMM) levou a que a organização repensasse essa pretensão, como explicou o presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) ao NOVO.
“É importante referir que a feira não cresce, porque a própria APEL preferiu não forçar esse crescimento este ano. Isto é, trabalhando com a Câmara, com tempo, percebemos que não valeria a pena estar a complexificar um tema que já era em si sensível que é esta necessidade de conciliar a Feira do Livro com a construção dos equipamentos que são necessários para a Jornada Mundial da Juventude”, disse Pedro Sobral. “A Feira do Livro está para ficar, não sendo este ano é para o ano.”
Sobre o regresso às datas tradicionais, Pedro Sobral lembrou que “2020, 2021 e 2022 tiveram condições muito especiais” e que em Setembro do ano passado já tinha ficado definido o regresso ao período habitual da feira.
“É uma altura mais fácil para os editores, porque Setembro é um mês de muita pressão logística. Ainda estamos em plena fase escolar, de regresso às aulas, e também há uma preparação muito forte das campanhas de Natal, que começam em Setembro e Outubro. Obviamente, para as famílias é complicado. Apesar da surpresa do número de visitantes e do êxito que foi no ano passado, Setembro é um mês difícil para as famílias e sabemos disso. Maio e Junho são os meses que, do ponto de vista de logística e operacional, encaixam melhor naquilo que é o processo normal neste sector, quer para os editores, quer para os livreiros. Por outro lado, a esmagadora maioria das famílias portuguesas já estão a pôr os olhos nas férias, que é um período predilecto de leitura, um período para onde as pessoas destinam muitas das compras dos seus livros”, sublinhou o responsável da APEL.
Na edição do ano passado, a Feira do Livro de Lisboa recebeu entre 770 mil a 790 mil visitantes, uma afluência elevada. No mínimo, a organização espera que um número idêntico de pessoas passe pelo espaço da feira este ano. “A Feira do Livro sendo o acontecimento que é, a festa que é à volta da literatura e dos seus escritores, esperamos que traga o número de visitantes que tivemos no ano passado, se possível mais”, assinalou Pedro Sobral. “Mais ainda, quando o número de vendas de livros deste último ano e meio, dois anos, mostra que as pessoas em Portugal compram mais livros.”
Mercado em crescimento, mas índices de leitura ainda são baixos
Portugal continua a ter um problema grave no que diz respeito aos hábitos de leitura da população. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, em 2022 cerca de 58% dos portugueses não leram sequer um livro. “Continua a ser um mercado exíguo”, salienta o presidente da APEL, mas “está a crescer”. “No final de Abril o mercado representa um crescimento de 9%”, revela ao NOVO. Isto apesar de o preço médio dos livros também apresentar um aumento de 6%.
“Por isso, o mercado não está a crescer muito em número de unidades de livros. Está a crescer mais em valor, porque infelizmente os editores não têm capacidade para absorver em completo o enorme impacto nos custos de produção que a inflação e as dificuldades nas cadeias logísticas globais nos apresentaram, nomeadamente no papel, os próprios recursos humanos, as gráficas, as tintas, as colas”, como refere Pedro Sobral, que adianta que no ano passado o incremento nas matérias-primas de produção para o livro rondou os 30%, 40%.
O peso das gerações mais jovens
Na edição de 2022, foi notória a maior presença de jovens na Feira do Livro de Lisboa. Um sinal que demonstra a reaproximação dos mais novos à literatura. “O aumento de número de livros vendidos vem muito destas faixas mais novas, que voltaram a olhar para a leitura como uma experiência positiva”, enfatiza o responsável da APEL.
“Esta é, talvez, a grande alteração que houve depois do confinamento e depois do excesso do digital durante esse período (...) Encontraram através das redes sociais e nas redes sociais este contacto com o livro como objecto, porque não é apenas a leitura que readquiriu o interesse como experiência, mas também o livro como objecto, como algo desejável, como algo que se quer, como algo que esteticamente tem valor, como sempre teve”, apontou Pedro Sobral. “É por isso que todos aqueles que vaticinam a morte do livro em papel estão redondamente enganados”, completou.
Uma feira para o leitor
Uma das novidades que destacadas pela organização para a edição deste ano da Feira do Livro é a presença de mais escritores. Esse contacto entre os autores e os leitores é de resto um dos aspectos no qual a Feira do Livro de Lisboa se demarca de outras.
“O ponto mais importante da feira é esta forma dos escritores contactarem com os seus leitores e vice-versa. É das poucas feiras europeias com esta estrutura e esta dimensão que se dirige para o leitor acima de tudo. A esmagadora maioria das feiras são feiras de editores para editores. Neste caso é uma feira que se destina ao leitor final e temos de facto cada vez mais escritores a quererem estar presentes, nacionais e internacionais”, indicou Pedro Sobral, acrescentado que “isso é já uma aposta ganha e este ano há um claro sinal disso”. “Temos literalmente milhares de eventos. Sessões de autógrafos, sessões de apresentação de livros, de debates, de conversas, e isso é o que também faz com que a feira seja um sucesso e que leve mais gente à feira”, disse.
Entre os dias 25 de Maio e 11 de Junho a Feira do Livro promete marcar a agenda de milhares de pessoas. Aos dias de semana a feira fecha às 22h e aos fins-de-semana e feriados encerra às 23h. A excepção é este sábado, uma vez que o final do campeonato de futebol, obriga a um encerramento antecipado da feira, mais precisamente às 17h.