Eisenstein descreveu-o, suspeita-se que sem saber de que filme se tratava. Tinha-o visto criança, um filme para adultos que não lhe sairia da cabeça para a vida inteira: “As mulheres rebelaram-se e faziam o que os homens haviam feito. Começaram a frequentar cafés. A falar de política. A fumar charutos. Enquanto os seus maridos ficavam em casa a limpar.” É uma tradução livre de uma edição em inglês das suas memórias. À de Naum Kleiman, historiador e crítico de cinema russo que nunca entendera a que filme nestas linhas o cineasta soviético se referia, elas vieram de imediato assim que assistiu a “Les Résultats du Féminisme”, curta-metragem de sete minutos rodada e estreada em 1906 pela francesa Alice Guy, que aos 33 anos realizara já mais de 200 curtas.“
É este o filme a que ele se refere”, diz Naum Kleiman em videochamada a Pamela B. Green, autora de “Be Natural: A História Nunca Contada de Alice Guy-Blaché”. Documentário que chegou esta semana às salas e à plataforma de streaming Filmin, ao qual dedicou dez anos da sua vida, numa viagem de descoberta da obra e da vida de Alice Guy-Blaché, a primeira realizadora de cinema da história - que ajudou, na verdade, a fazer nos seus primeiros anos, entre nomes como os irmãos Lumière e Georges Méliès, na Paris às portas do século XX.
De repente, vemo-la e a este seu pequeno filme na célebre cena do carrinho de bebé de “O Couraçado Potemkine”, a obra fundamental do cinema soviético que Eisenstein estrearia 20 anos depois.
E noutro dos seus filmes, “Outubro” (1927), a ironia em que Guy equilibrava a relação homem-mulher nos filmes que entretanto deixara já de realizar.
Leia o artigo na íntegra na edição do NOVO nas bancas a 4 de Junho de 2021.
