Junho trouxe o ansiado regresso dos Santos Populares e dos festivais de Verão a Portugal, depois dos cancelamentos dos últimos anos devido à pandemia de covid-19. Os portugueses retomam, assim, a normalidade para dois dos eventos que marcam os meses de Verão e pelos quais ansiavam há muito. Aos poucos, o país vai aprendendo a conviver com o vírus SARS-CoV-2 e, apesar de reconhecerem que os Santos Populares e os festivais vão contribuir para o aumento de casos de covid-19, os especialistas contactados pelo NOVO sublinharam que não há motivo para alerta.
“É esperado que haja um aumento do número de casos, que não vai provocar um grande impacto do ponto de vista de cuidados de saúde por ser população relativamente jovem e saudável. Por outro lado, esse aumento do número de casos também vai estar parcialmente dependente da disponibilidade das pessoas para se diagnosticarem, porque muitos dos casos serão claramente assintomáticos e, provavelmente, não serão sequer diagnosticados”, disse Elisabete Ramos, epidemiologista e presidente da Associação Portuguesa de Epidemiologia.
Já Henrique Oliveira, matemático do Instituto Superior Técnico, estima que “não vai haver uma explosão de casos nem um crescimento comparável ao que estava a acontecer em Maio”. Traça um cenário de “descida, mas mais gradual, mais vagarosa do que aconteceria se não se realizassem os festivais de Verão” nesta fase da sexta vaga. “Isso também tem impacto nas hospitalizações e nos internamentos em cuidados intensivos, porque também vão continuar a descer, mas mais devagar”, prevê. O matemático tem uma estimativa de 350 mil contágios na totalidade do mês de Junho. “O que daria cerca de nove mil casos por dia”, revela.
O relatório semanal da Direcção-Geral da Saúde (DGS) divulgado na passada sexta-feira apresentava números animadores, com o número de novos casos a diminuir para 114 410 (menos 43 534 do que na semana anterior). Os óbitos e os internamentos também registaram uma descida, mas os dados não reflectiram o impacto das festas populares e dos festivais. “Os números da semana passada são pouco confiáveis porque houve muitos feriados e há muito menos testagem. Os casos de covid da semana passada e nesta semana vão reflectir-se mais. Isto é uma probabilidade. Aconteceu sempre que houve feriados. O número de casos descia, artificialmente, muito. Esta semana é que vamos ter uma noção mais clara dos efeitos das festas, dos feriados e dos festivais”, explica Henrique Oliveira.
No actual momento da pandemia, Elisabete Ramos considera que os festivais de Verão e os Santos Populares não devem suscitar maior preocupação do que outros eventos que se têm realizado em Portugal. “Vamos ter de passar a conviver de uma forma mais ou menos natural com a existência do vírus. Poderá haver alguns aspectos a ter em conta, nomeadamente haver um pouco mais de cuidado do ponto de vista de valorizar sintomatologia que, noutro contexto, não seria valorizável, e na tentativa de, havendo alguma sintomatologia, tentar resguardar terceiros”, referiu a epidemiologista, assegurando que “não há nenhuma razão para particular alerta.”
Até porque o momento da pandemia é outro. “Quer pelas vacinações, quer pelas pessoas que tiveram contacto com o vírus, e, por isso, o contexto que vivemos actualmente não é de todo comparável com o que vivemos no passado”, vinca Elisabete Ramos.
Leia o artigo na íntegra na edição do NOVO que está esta sexta-feira, dia 24 de Junho, nas bancas.
