Vencedores e vencidos no debate de Lisboa

Rui Rocha
03 de Setembro de 2021

Concluído o primeiro debate televisivo entre os candidatos à Câmara Municipal de Lisboa, vi três derrotados e quatro vencedores. Explico a seguir porquê:

Derrotados

Carlos Moedas – Precisava de um golpe de asa para encurtar distâncias para Fernando Medina. Não aconteceu. Tem dificuldade em transpor para o discurso a sua preparação técnica. Não entusiasma, não galvaniza. Depois de ter visto o seu espaço invadido pelos outdoors populistas de Suzana Garcia, ainda teve a notícia, saída ainda durante o debate, de que Rangel quer avançar para a liderança do PSD, dando a ideia de que o partido tem outras prioridades que não passam pela sua candidatura em Lisboa. Faltou-lhe killer instinct quando o colaram à Troika e não aproveitou para responsabilizar Medina, o “fiel porta-voz de Sócrates”, pela bancarrota. Não conseguiu sequer justificar a mobilização de voto útil à esquerda de Medina.

Nuno Graciano – Um desastre. Incapaz, sequer, de utilizar a sua experiência em televisão para demonstrar à vontade no discurso e na relação com a câmara. Vazio total de ideias, desconhecimento da cidade, timing sempre errado. Um ator que não conseguiu decorar duas falas e teve de ler uma cábula. Um despropósito de candidato que ainda conseguiu dar oportunidade à candidata do PAN para protagonizar o momento da noite, pondo-o na linha.

Beatriz Gomes Dias – Com discurso fluído e assertiva, podia ter sido uma das surpresas da noite. Mas não evitou deixar a descoberto as evidentes debilidades da proposta do Bloco. Alinhamento quase total com Medina que esvazia a utilidade da candidatura e a cola aos falhanços mais evidentes do mandato como é o caso flagrante do não cumprimento clamoroso de promessas em termos de habitação. Uma visão limitadíssima que só encontra soluções na intervenção pública e que concluiu com o momento de delírio em que defendeu a proibição de viagens de avião para a Europa.

Vencedores

Fernando Medina – Vive mal com a crítica, tem uma expressão facial que o denuncia durante os debates, não sabe assumir responsabilidades o que compromete a sua imagem como líder. Todas estas insuficiências foram visíveis na noite de ontem. Mas, face à vantagem que as sondagens lhe dão, chegava-lhe perder por poucos para ter uma vitória no debate. Moedas não fez o suficiente. Medina, não tendo perdido, ganhou.

João Ferreira – Discurso articulado, conhecimento dos temas, domínio dos momentos do debate. O “vai a todas” do PCP passou uma imagem de credibilidade que superou qualquer ideia de desgaste de imagem provocado por ser praticamente o candidato único do partido a todos os desafios eleitorais com exposição mediática. Deixou demasiado evidente a ansiedade do PCP em substituir o Bloco como apoio principal de Medina, mas esteve claramente melhor que Beatriz Gomes Dias no campeonato dos candidatos a melhor muleta numa eventual renovação do mandato do candidato do PS.

Bruno Horta Soares – Solto, assertivo, empunhou as bandeiras principais do partido e demonstrou que existem propostas alternativas que passam por políticas públicas, mas não necessariamente por intervenção pública, marcando pontos na afirmação das diferenças face a Carlos Moedas. Para alguns, poderá ter passado o risco com o coloquialismo excessivo na intervenção final que, em contrapartida, terá agradado a quem está cansado de formalidades excessivas na ação política. Uma prestação positiva, ao ataque e desengravatada.

Manuela Gonzaga – Discurso muito consistente, estruturado, sereno. Uma grande surpresa para quem não a conhecia. Protagonizou o momento mediático da noite quando deu um forte e merecido corretivo a Nuno Graciano, sublinhando a dignidade da ação política e recusando liminarmente o lamaçal em que o candidato do Chega procurou lançar todos os intervenientes no debate.