O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) não tem dúvidas: a temperatura global subirá 2,7 graus em 2100 se se mantiver o actual ritmo de emissões de gases com feito de estufa. No relatório divulgado esta segunda-feira explica-se que cada grau de aumento faz antever cerca de sete por cento mais de precipitação em todo o mundo, provocando um aumento de tempestades, inundações e outros desastres naturais. “Trata-se de um alerta vermelho para a humanidade”, define o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.
O estudo da principal organização que estuda as alterações climáticas, elaborado por 234 autores de 66 países, apresenta diferentes patamares que dependem do nível de emissões alcançado nos próximos anos. O Acordo de Paris, tratado no âmbito das Nações Unidas, comprometeu-se a limitar a subida da temperatura “bem abaixo dos 2 graus centígrados” e a “continuar os esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5 graus centígrados”.
Na melhor hipótese, em que se atinge a neutralidade carbónica (emissões zero) em metade do século, o aumento de temperatura seria de 1,5 graus em 2040, 1,6 graus em 2060 e uma queda para 1,4 graus no final do século. Os especialistas assume que a redução de emissões não terá efeitos visíveis na temperatura global até que passem umas duas décadas, mas asseguram que os benefícios para a contaminação atmosférica se começariam a notar em poucos anos.
Actualmente, a temperatura é em média 1,1 graus mais alta do que no período pré-industrial (1850-1900). Mas manter esta situação não será suficiente para reverter o processo. Para os cientistas, estes valores levarão a um aumento de 1,5 graus em 2040, de 2 graus em 2060 e de 2,7 em 2100.
Já no cenário mais pessimista, no qual as emissões de dióxido de carbono e outros gases com efeito de estufa duplicariam em meados do século, o aumento poderia alcançar os 4 graus em 2100. Num cenário destes, as ondas de calor extremo, que na época pré-industrial aconteciam aproximadamente uma vez por década e atualmente ocorrem 2,3 vezes, podem multiplicar-se até 9,4 vezes por década, ou seja, quase uma por ano.
Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, o relatório é um “alerta vermelho” que deve fazer soar os alarmes sobre as energias fósseis que “destroem o planeta”. Assim, o antigo primeiro-ministro português considera que os alertas feitos pelo relatório devem levar os países a “acabar com novas explorações e produção de combustíveis fósseis, transferindo os recursos para a energia renovável”.
“Os alarmes são ensurdecedores: as emissões de gases de efeito estufa provocadas por combustíveis fósseis e a desflorestação estão a sufocar o nosso planeta”, disse o secretário-geral da ONU. “Se unirmos forças agora, podemos evitar a catástrofe climática. Mas, como o relatório de hoje indica claramente não há tempo e não há lugar para desculpas”, apelou António Guterres, para quem o documento não pode passar à margem das consciências.